Trilogia de Copenhaga, de Tove Ditlevsen
Depois de ter ligo o livro Os rostos sabia que queria ler mais de Tove Ditlevsen. E depois de ter lido este "A trilogia de Copenhaga" ainda gosto mais de "Os rostos", especialmente porque lhe reconheço uma maior verdade que, não sendo importante para a leitura, lhe dá uma outra dimensão.
Estes 3 livros, Infância, Juventude e Relações tóxicas, são baseados na vida da escritora (não sei se deveremos chamar-lhe autobiografia, memórias ou autoficção, como está na moda). É sempre interessante perceber como cada um se vê e digamos que Tove não é meiga consigo mesma ou com os outros. De uma sinceridade por vezes brutal conduz-nos pela sua vida, da infância à idade adulta, de quando "me vão chegar a roupa ao pelo porque sou muito estranha. Sou estranha porque leio livros" até ser reconhecida como escritora e se afundar na dependência de drogas.
Usei a expressão "ser reconhecida como escritora" porque uma das coisas que fica muito clara é que Tove era escritora muito antes de ser publicada, se calhar antes até de saber ler. Ela era a poesia, a literatura, as palavras. Ser escritora não foi uma escolha consciente. Não foi sequer uma escolha.
Tal como se tornar dependente de drogas foi uma inevitabilidade, não uma escolha. A autora não arranja desculpas e de uma forma brutal, seca e quase despojada de emoções faz-nos entrar na sua vida, na sua relação (sempre tensa) com os outros e com as drogas.