Mrs. Marsh, de Virginia Feito
“— Então, porque sinto que ela existe e eu não?”
Excerto de: Virginia Feito. “Mrs. March”.
Desagradável. Talvez tenha sido a palavra que mais li e ouvi acerca de Mrs. Marsh. Não é a que eu utilizaria para a descrever.
Não detestei esta mulher em nenhuma página deste livro, senti pena dela o tempo todo e desde o início esta foi a história de uma tragédia à espera de acontecer. Triste e previsível.
*** pode haver alguns spoilers daqui para a frente****
Não fiquei fascinada, embora ache que há pontos positivos neste livro. A espiral de loucura em que Mrs Marsh entra quando Patricia lhe sugere que Johanna “Uma prostituta com quem ninguém quer dormir”, a protagonista do livro publicado pelo seu marido, teria sido baseada em si é bastante interessante.
Mas qual é o objectivo deste livro? Nas primeiras páginas percebemos que aquela mulher tem, claramente uma doença mental e que o narrador, ao contar-nos a história apenas da sua perspectiva não pode ser confiável. Por ser tão fácil perceber o que é real ou imaginado não é possível embarcarmos nas dúvidas da Mrs. Marsh nem acreditarmos na possibilidade das suas "fantasias" não as serem de todo, pelo que o final é apenas e só previsível. E triste. Já vos disse que achei este livro triste de uma ponta à outra?
Sobra-nos a crítica social. Aquela mulher tem tantos problemas e ninguém, ninguém, a ajuda, ninguém lhe estende a mão, ninguém parece sequer perceber a loucura que ali vai. Excepto Martha, claro, que é a única que lhe diz “Acho que tem de procurar ajuda”.
“— Quando tiveste consultas com um psicólogo, querida? — perguntou George.
— Oh, há muito tempo. Em criança. Não foi nada, só uma ou duas sessões. Pelos vistos, mordi uma vez a empregada. Foi por isso. — Revirou os olhos e sorriu.
— Não foi só por teres mordido a empregada — disse a irmã. — Estás ciente disso, não estás?”
O livro promete respostas às perguntas que levanta, promete que podemos interessar-nos por Mrs. Marsh, mas não cumpre. Está centrado na loucura dela sem se importar ou sequer lhe dar importância a ela, à personagem detestável, louca, solitária que vive, ao longo das páginas deste livro, um verdadeiro filme de terror - filme de terror que apenas nos cansa.