As sombras da noite branca, de Sandra Carvalho (cheio de spoilers)
*** isto vai estar cheio de spoilers, não sei dar a minha opinião sem eles, por isso se não leram vão-se embora, depois não digam que não avisei)
Finalmente acabou. Muitos anos e 8 volumes depois a saga das pedras mágicas chega ao fim.
Passei por altos e baixos ao longo desta leitura, eu própria mudei enquanto leitora e certamente a Sandra Carvalho mudou enquanto escritora. Começo por referir que se notou uma enorme evolução entre o primeiro e o último volume desta saga e isso é maravilhoso.
Sou fã de fantasia e a Sandra Carvalho é das poucas escritoras Portuguesas deste género literário. Eu não podia deixar, por isso, de ler os seus livros.
O meu volume favorito foi o 6º (A sacerdotisa dos Penhascos) onde Kelda era uma protagonista à altura. Tinha algumas expectativas em relação ao final e às soluções encontradas para dar um nó em todas as pontas que se criaram ao longo dos 7 volumes anteriores.
Em relação a isto tenho que admitir que a escritora conseguiu. Fechou a história, deu um final a cada uma das personagens e agradou sobremaneira à leitora que eu fui quando comecei a ler esta saga. Quem dera que tivesse posto as mãozinhas nestes livros aos 16. Tinha adorado.
O problema é que tenho 36 e muitos livros já me passaram pelas mãos. Inclusive grandes livros de fantasia.
Continuei a adorar o Erebus e o Halvard. Um é a personagem com o qual sofremos, por quem torcemos e o outro é tão odioso, com uma dose de loucura tal que me foi impossível não odiar.
Mas a Kelda, que tanto prometia, tornou-se uma personagem irritante, sem personalidade , pegajosa e para quem não tive qualquer pachorra. O pseudo-romance com o Sigarr foi tolo e pouco credível, o romance com o Lysander foi de conto de fadas. E eu não gosto de contos de fadas. De uma Kelda forte e real, a voltas com a mistura de Arte obscura e Arte luminosa passamos para uma menina mimada, tola e cheia de dúvidas existenciais.
Mas o que me tirou mesmo do sério foi a quantidade de soluções mágicas que a escritora arranjou. Expoente máximo para a espada mágica. A sério? Errrrrr, acho que depois disso já valia tudo. Mas as curas miraculosas, as ressurreições, enfim, dava a sensação que, de cada vez que se via perante um problema, a escritora agitava a varinha mágica e uma solução aparecia. Fiquei com a sensação que este último volume (e o anterior já tinha parte disso, para dizer a verdade) foi uma sucessão de soluções mal-amanhadas.
É que eu adoro fantasia mas há limites para o que torna uma história do fantástico credível ou não e na minha opinião, neste livro esses limites foram claramente ultrapassados (a solução "bela adormecida" ao quadrado deu cabo de mim, confesso).
Tenho mesmo pena de ter acabado a saga com um misto de irritação e de desilusão apesar de ter a noção que, como disse acima, o meu eu dos 16 teria adorado.