A frase de Pablo Picasso "Os maus artistas copiam. Os bons roubam" ganha toda uma outra dimensão assim que percebemos a ousadia do autor que decidiu roubar um quadro.
Eu sei que isto não é uma trilogia (pelo menos é o que o Nuno diz) mas a minha expectativa era que este livro se debruçasse na terceira "religião do livro" , o Cristianismo, uma vez que do Islamismo o autor tinha tratado no "A célula adormecida" e do Judaísmo no "Pecados Santos". Ora, como iria o Nuno fazer isso era algo que me deixava na expectativa uma vez que o que não falta por aí são thrillers baseados em teorias, dos mais diversos géneros, relativas às personagens mais marcantes do Cristianismo. E o Nuno resolveu... roubar um quadro. Claro que não podia ser um quadro qualquer, ele tinha que escolher logo o "A última ceia".
Como leitora, impressionou-me a pesquisa que, uma vez mais, se torna visível a cada página. E a forma como toda essa informação nos é transmitida, sem nos maçar, nem nos aborrecer. Não conhecendo muito de arte (nem da comum quanto mais da sacra) agradeci o que aprendi e que essa ignorância não me impedisse de apreciar o decorrer da história.
Este é um livro diferente dos anteriores. Não é tanto o "quem" mas sim o "como" e o "porquê" que nos levam a ler página após página.
A sinopse prometia-nos um romance. E um assalto. E uma história que não nos deixasse pôr este livro de lado. Claro que, quando começamos a ler um livro destes, estamos conscientes que vamos ser enganados. E depois do que o Nuno fez no "Pecados Santos", eu já não confio nas personagens criadas por ele (desculpa Nuno mas é verdade) pelo que estou de pé atrás a cada momento.
O autor não roubou apenas um quadro (ou três, sequer). Como podemos ver pelas notas finais (que são, como o Nuno me disse, "como o nome indica, para ler no fim e não no início") também roubou vários acontecimentos à realidade. E isso fez-me olhar para determinados acontecimentos com outros olhos (a verdade é que não há ficção literária que bata a realidade).
Eu sei que não vos falei da história, não é? Mas a verdade é que não vos quero estragar o prazer da leitura deste livro.
Uma nota final para um reencontro. O Afonso Catalão, apesar de não ser protagonista desta história, tem um papel aqui. E o Afonso é o meu personagem favorito de todos os livros do Nuno. Foi bom, muito bom, ver como ele (e a Diana) reagiram aos acontecimentos do livro "Pecados Santos". Uma das coisas que me irrita sobremaneira neste género de livros é que, na maioria das vezes, os acontecimentos passados, sejam ou não traumáticos, ficam no passado assim que são "resolvidos". Felizmente isso não acontece aqui. O Afonso está nestas páginas com todas as dores que trouxe do passado. E isso deu-lhe, uma vez mais, uma dimensão real.
Acho que fica apenas por dizer, se é que não o perceberam já, que gostei muito deste livro.