Deuses Americanos, de Neil Gaiman e Destino, de Raffaella Romagnolo
Curiosamente, ontem acabei de ler 2 livros. De manhã, a caminho do trabalho, ouvi os capítulos finais de Deuses Americanos, de Neil Gaiman, e à noite terminei o Destino de Raffaella Romagnolo.
Ouvir Gaiman é sempre uma experiência "do caraças". Acho que estes livros ganham muito com a experiência do audiobook. Ouvir uma história obriga-nos a vivê-la de uma forma diferente. A verdade é que a escolha do/s narradores é fundamental e pode fazer a diferença. Não costumo ser fã de Audiobook "full cast" mas, neste livro, isso funcionou lindamente. A súbita entrada de uma voz diferente não me condicionava, antes me obrigava a reposicionar no sítio certo. Deuses Americanos é um livro surreal, non-sense, mas absolutamente certeiro. Como sempre, um livro de fantasia fala mais sobre nós enquanto humanidade que outros (supostamente) realistas.
Ao longo destas páginas/horas conhecemos a história de Shadow que, após ter cumprido 3 anos de prisão, só quer regressar a casa e a Laura. Dias antes do dia de liberdade é informado que Laura morreu num acidente juntamente com Robbie, o primo para quem iria trabalhar. Sem família, sem trabalho, acaba por aceitar trabalhar para Wednesday, um dos antigos deuses, como "homem para todo o serviço", durante a sua road trip para reunir as tropas e prepará-las para a batalha com os "novos deuses".
Shadow é fascinante. Não apenas para nós para para todos os deuses, os antigos, os novos, todos disputam, sem razão aparente, a sua lealdade.
Numa viagem marada pelo país e pela mitologia, Gaimam faz uma crítica feroz à sociedade actual, sempre pautada pela estranheza e pela loucura divertida a que já nos (me) habituou.
Se este livro vale pena? Sim, completamente. Não superou o Good Omens (my favourite) mas ainda assim, tão, tão bom. Leiam, ou melhor, oiçam e divirtam-se.
Raramente me oferecem livros pelo que, quando o fazem, faço questão de priorizar essas leituras. Foi o Caso de Destino, de Raffaella Romagnolo. Provavelmente não era livro que comprasse e por vários motivos. Um deles é o título. Destino? a sério? Ficava cortado à partida. Outro é a colagem à Ferrante. Não só não sou a maior das fãs da Ferrante (nunca acabei a tetralogia, para dizer a verdade) como me irrita este género de publicidade. Mas seria um erro crasso. A verdade é que este foi "o livro certo na altura certa" e isso fez toda a diferença.
Conhecer as histórias de Giulia e de Anita (e não esquecer Adelaide, Rita, Rosa), misturadas com a história da Itália (e da emigração Italiana) na primeira metade do Sec.XX, foi o garante de umas boas horas de leitura. É sempre muito bom conhecer mulheres resistentes, cheias de amor, força, empatia. Este é um daqueles livros que nos deixa de coração cheio e que vamos recordar sempre com carinho.