Más leituras e outras histórias
As leituras das férias não foram tão espectaculares como estava a contar. Exceptuando, claro, o maravilhoso Laranjeira-Amarga, de Jokha Alharthi, um livro sobre expectativas, família, culpa e pertença. A tom em que esta história é contada é tristíssimo.
A voz é de Zuhour mas nestas páginas habitam várias mulheres, lembradas e trazidas à vida numa miscelânea de pensamentos e recordações. Bint Aamir, a menina que é expulsa de casa com o irmão quando o pai arranja outra mulher e outros filhos. Bint Aamir, a força da natureza, a mãe, avó, fonte de paciência e amor. Bint Aamir, esquecida, menosprezada, abandonada. Sumayaa, a menina cheia de energia e alegria, quebrada e usada. Suroor e Kuhl, símbolos de tradição e de escolhas diferentes. Esta é também uma história de amor. Das várias faces do amor: do correspondido, do não correspondido, do concretizado e do não concretizado. Muitas histórias compõem este livro tão pequeno. Se algum defeito lhe ponho é que essas histórias estão congeladas no tempo, são-nos contadas, apresentadas, por Zuhour, da sua perspectiva apenas e não valem por si mas apenas como parte do puzzle que é esta menina-mulher.
Nestes dias de verão e calor optei por pegar em livros menos complexos e de leitura rápida. Primeiro foram os policiais. Javier Cercas apresenta-nos, em Terra Alta, um policia leitor que só lê livros do século XIX e que tem um sentido de justiça muito peculiar. Achei-lhe alguma piada e até li o segundo volume desta saga, o Independência, que me desiludiu por completo. Previsível, chato, cheio de clichés e a abusar na peculiaridade do sentido de justiça do protagonista de uma forma abusiva, popularucha e absolutamente idiota. Não tenho paciência, irritou-me e não volto a pegar nos livros de Javier Cercas tão cedo.
Passei também pela fantasia, um dos meus géneros favoritos, mas escolhi os livros errados. Já vos falei do A guerra das papoilas mas li também o A devoradora de pecados, de Megan Campisi, que parte de uma grande ideia (a da purgação dos pecados de uma vida através de uma cerimónia em que a "devoradora de pecados" assume os pecados do morto através de um banquete correspondente aos pecados confessados - a cada um corresponde um alimento) e de uma concretização pobre e banal. O início é interessante, nojento e perturbador quanto baste mas depois é apenas mais uma história que não aquece nem arrefece.
Ainda me faltam 2 dias para terminar este período de férias e vou tentar salvar as leituras com o No Ser Humano Tudo Tem de Ser Belo, de Sasha Marianna Salzmann, que para já está a ser uma leitura bastante interessante.