Kafka à Beira-mar, de Haruki Murakami
Tinha para ler este livro há nem sei quanto tempo. Provavelmente comprei-o pouco depois de me ter apaixonado pelo 1Q84 só que foi ficando na estante à espera de vez. Ora, a vez dele chegou e vou já dizendo que gostei mesmo muito. É bom ler a estranheza do eterno aspirante ao nobel e mergulhar naquele mundo tão parecido com o nosso mas ligeiramente diferente e achar tudo normal? Chovem peixes? Normal (isto não conta como spoiler, toda a gente sabe); há miúdos a cair para lado sem razão aparente? Tudo bem, só queremos saber porquê. Os gatos falam? Bem, eu falo com os meus todos os dias, tenho a certeza que me entendem.
Rapidamente, muito rapidamente, entramos naquele mundo e acompanhamos Nakata na sua busca pela gatinha chamada Goma e depois na sua demanda para lá do seu mundo, e acompanhamos o rapaz que se auto-denomina Kafka, na sua busca pela biblioteca perfeita. Talvez devesse dizer “na sua busca pelo seu lugar no mundo” mas dizer assim “a busca pela biblioteca perfeita” é quase a mesma coisa. Num livro em que saltitamos de história para história é inevitável que uma delas nos atraia mais. Acho que é inevitável que Nakata nos atraia. Afinal este velho (se é que se pode chamar a alguém com os seus 70 e tais anos de velho), analfabeto, com alguma deficiência mental é a imagem da bondade e da inocência. É fácil sentir empatia e perdoar-lhe tudo, sentindo nas páginas que o retratam a ausência de mal. Já Kafka tem uma história de altos e baixos em termos de interesse (pelo menos para mim), e apesar de ser interessante a história da profecia edipiana de que foge, a forma como tudo se resolve tem os seus "quês".
Ainda assim, gostei muito de entrar neste mundo de música e de realidades alternativas que Murakami nos traz em Kafka à beira mar. Tenho, no entanto, a sensação que preciso reler este livro para o compreender melhor.