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Ler por aí

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15
Mai18

Elantris, de Brandon Sanderson

Patrícia

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Tal como vos disse aqui, este é o primeiro livro do Brandon Sanderson. E que bom é.

 

Elantris é um livro de fantasia (esperem, não fujam já). Elantris não é só um livro de fantasia. É um livro de intriga política e religiosa. É um livro que tem uma história brutal, um mundo bem conseguido e personagens interessantes. É um livro que nos faz reflectir, questionar o mundo em que vivemos.

O mundo criado por Brandon Sanderson (Sel) está muito bem construido. O sistema de magia, baseado na linguagem é coerente, interessante e com um potencial enorme (talvez pouco aproveitado mas como há algumas novelas passadas em Sel e a promessa de outras histórias em Elantris, tenho para mim que ainda vou aprender bastante sobre Aons). A ligação a Cosmere não é óbvia mas este é o primeiro livro do universo. A presença do Hoid é rápida mas não acrescenta nada. Foi talvez o que mais me desiludiu no livro.

A intriga política tem uma forte presença neste livro. Sarene, que foi uma das responsáveis pela diplomacia do seu reino, não esconde deste o início que gosta do jogo político. Os seus motivos são puros (isso nunca está em causa) mas é óbvio que a política lhe está no sangue, que é uma líder nata e é através dos seus olhos que mergulhamos no sistema político e ditatorial de Kae, onde o capitalismo é rei e senhor, onde a posição social é apenas ditada pela riqueza. Pelos olhos de Raoden vemos como se constrói, organiza e põe a funcionar uma sociedade onde o valor de todos é igual e cada qual dá o melhor de si. E vemos como ambas colidem, como são antagónicas e como, por vezes, se complementam. 

Também em relação à religião temos várias vertentes, para todos os gostos. Tal como no nosso mundo, religião, fé e política misturam-se. E, tal como no nosso mundo, quando isso acontece... bem todos nós sabemos o que acontece, não é?

A literatura permite-nos reflectir sobre deus e crises de fé de uma maneira fantástica e o autor é exímio a levantar questões.

O desenvolvimento das personagens são um dos pontos fortes do Sanderson. Elantris, sendo um primeiro livro, não é excepção. Apesar de alguns elementos da "jornada do herói" serem óbvios neste livro (e na verdade não há como, na fantasia, fugir muito a esta estrutura básica)  - e aqui inserem-se os "maus da fita", vilão e anti-herói) é nos heróis que o livro ganha a batalha. Há quem considere exactamente o contrário e considere o Raoden e a Sarene como personagens planas, uma vez que não há um crescimento notável ao longo do livro. Verdade, Raoden e Sarene são coerentes e consistentes ao longo de todo o livro... porque me parece que para o autor era mais importante o que aqueles personagens conseguiam fazer, a mudança que conseguiam trazer ao mundo do que a sua própria transformação. E isso é o mais espectacular de tudo. Isso e o romance não ser, de todo, uma parte fundamental do livro. 

Se vale a pena ler? Claro.

Ainda voltarei a Elantris...

 

14
Mai18

Elantris - uma introdução

Patrícia

Elantris é um primeiro livro. O que é irritante tendo em consideração o quão bom é. Para além de ser um primeiro livro, é um livro cuja história começa e acaba no mesmo volume. Quer dizer, mais ou menos. Quem já conhece o Brandon Sanderson sabe que com ele nunca é bem assim. Sim, a história de Elantris basta-se a si mesma mas é também o início da grande aventura que é Cosmere.
Apesar de eu já ter lido alguns livros do universo Cosmere (Mistborn Era 1, Warbreaker, Edgedancer e Stormlight archives) a verdade é que nunca tinha lido o início de tudo. O desafio, até que seja publicado o quarto volume da saga de Stormlight Archive, é ler (ou reler) os livros e tentar construir o grande puzzle que é Cosmere.
Ler Brandon Sanderson é sempre uma experiência interessante. Este é o autor que mais interage com os seus leitores e que nos faz sentir parte do processo. Há até uma secção no seu site com anotações, capítulo a capítulo, que nos permite ler o livro como o autor gostaria que o lêssemos. Para quem lê o livro pela primeira vez - ou até para quem está a começar a ler o escritor - talvez isto seja até demasiada informação. Ler é acima de tudo uma experiência individual e deixarmos que alguém - nem que seja o próprio escritor - conduzir-nos nessa leitura pode ser demasiado e desnecessário. Ou pode ser interessante. A minha sugestão é que a primeira leitura não seja acompanhada.
Ler um livro de fantasia implica sempre um mergulho no desconhecido. É necessário tempo para que nos adaptemos a outra realidade, a outros mundo e a outras regras. É necessário que tenhamos a abertura de mente suficiente para permitir transformar um mundo ligeiramente diferente dos nosso em algo familiar.
Claro que o BS ajuda bastante. Apesar de ter fabulosos sistemas de magia (se bem que todos, nos livros do universo de Cosmere, se baseiam num princípio chamado Investiture - conceito de que falaremos vezes sem conta e que um dia talvez percebamos melhor) os seus livros são maravilhosos por várias razões para além da magia. Acho que o autor nos mostra que não há temas tabu para a fantasia, que a discussão de problemas fundamentais pode ser feita nas páginas de um livro deste género e que a intriga política é um tema a não resiste. Mas confesso que a mim é a interacção entre os personagens que mais me interessa, é a construção multi-dimensional de cada personagem que me atrai.
Elantris, casa de semi-deus escolhidos pelo Shaor (transformation), cidade caída em desgraça há 10 anos onde o acesso ao Dor se perdeu, Em vez de semi-deuses, os escolhidos pelo Shaor transformam-se numa espécie de zombies (não consigo deixar de revirar os olhos mas é, de facto, a melhor descrição para o resultado da transformação). Ora o primeiro dos personagens que vamos seguir ao longo desta leitura é precisamente um dos escolhidos pelo Shaor, o Raoden, príncipe herdeiro de Arelon que é atirado, sem apelo nem agravo, para Elantris que se tornou, nos últimos anos, numa cidade-prisão.
Azar dos azares, Raoden vai para Elantris (em segredo, pois oficialmente está morto e enterrado) antes de conhecer pessoalmente a noiva, Sarene. Apesar de ser acima de tudo um acordo político, tudo leva a crer que aqueles dois iriam dar certo pois ambos são, acima de tudo, inteligentes. Aliar a essa inteligência, bondade e humor, parece ser o caminho para fazer destes 2. personagens interessantes - e deixar o suposto romance de lado, para segundo plano (Brandon, confio em ti para não transformares o amor destes dois no centro da história, ok?).
O anti-herói desta história - basta-nos umas páginas para perceber que não vai ser o vilão, certo? - o Hrathen, vem para tentar salvar os habitantes do reino, convertendo-os à sua religião (onde é que já vimos isto, certo). Aposto em crises de fé, especialmente depois de ser brutalmente manipulado pelo verdadeiro vilão.
Ao longo da leitura hei-de vir contar-vos as minhas teorias, falar dos personagens, dos momentos e das frases que me têm marcado ou simplesmente chamado a atenção. Se estiverem a ler o livro e quiserem falar, trocar dois dedos de conversa, se me quiserem contar as vossas teorias, usem e abusem da caixa de comentários.
Boas leituras
Journey before destination - enjoy the journey

18
Abr18

Elantris quote #1

Patrícia

So, using his pride like a shield against despair, dejection, an - most important - self-pity, Roaden raised his head to stare damnation in the eyes.

 

***tradução livre/lição a memorizar: A força necessária para enfrentar as situações mais complicadas da vida tem que vir de dentro. Usar o orgulho como escudo perante o desespero e a vontade de auto-vitimização. 

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