presente do indicativo
Nem todos os dias são dias fáceis.
Há dias em que a perspectiva de continuar assim durante tempo indeterminado é demasiado avassaladora para permitir que continue a sorrir e a fingir que está tudo bem, tudo óptimo e que nada disto me afecta muito. É verdade que na maioria dos dias, naqueles em que consigo pensar apenas no presente do indicativo, "tiro isto de letra" que é como quem diz, consigo perceber a sorte que tenho no meio desta merda toda (desculpem lá mas não me apetece chamar-lhe outra coisa). Mas hoje apetecia-me pensar no futuro, e já nem importa se era no futuro do presente do indicativo ou no condicional. Eu sei que o grande problema é que dormi pouco e tenho um sapo ainda para digerir e está a ser difícil e nestes dias só me apetecia fazer como o bicho da conta e enrolar-me numa bolinha pequenina.
Mas mesmo nos dias mais negros há coisas que nos fazem sorrir... como os bichinhos de conta. Não me lembro da última vez que vi um. Mas lembro-me da primeira. Era uma noite de verão e eu, com uns 4, 5 anos no máximo, encontrei-o, enrolado numa bolinha. Peguei-lhe, fui a correr mostrar à minha mãe e, ao estender a mão, o bicho perdeu o medo e pôs-se a passear pela minha mão.
Não, não sorriam, que a história ainda não acabou.
Uma lagarta (com o bonito nome de bicho de conta) pôs-se a andar na minha mão e eu fiz aquilo que qualquer pessoa racional fazia perante tal ataque: atirei-o ao chão e pus-lhe um pé em cima.
Eu criei cães, gatos, pássaros, lagartixas, cágados, camaleões, ouriços e peixes; brinquei com ovelhas e cabras; apanhei gafanhotos, salvei várias aranhas, osgas e cobras, gosto de todos os animais excepto de lesmas (que são nojentas) mas, aos 5 anos, assassinei um bicho da conta porque ele me fez cócegas na mão.
(afinal, pensar no pretérito perfeito também ajuda ...)