Um dos mais aclamados livros de fantasia dos últimos anos cria, obviamente, uma enorme expectativa no leitor. Pelo menos em alguém que, como eu, gosta de fantasia.
Vou já pôr-me a jeito: não fiquei fã. Não detestei mas não sei se ou quando vou ler o próximo volume (o que, tendo em conta que o autor está a dar uma de Martin e nunca mais acaba a saga, talvez não seja mau).
Em primeiro lugar, vamos falar do mundo e da magia.
(acho que aqui devo dizer que li o livro em inglês - na realidade ouvi em audiobook - pelo que não faço ideia dos termos utilizados na tradução).
A ideia da "simpathy" é interessante - especialmente pela forma cientifica como é ensinada na universidade. Os seres mágicos, com especial ênfase nos Chandrian e no Blast, podem tornar-se interessantes - mas ainda sabemos tão pouco sobre eles que não consigo estar assim tão curiosa.
O "naming" e a importância dos nomes, não é propriamente uma novidade nestas coisas da fantasia mas há aqui uma diferença e uma novidade que dá potencial a esta forma de magia - e aqui entra a importância de Edodin - a sua lição ao Kvothe sobre a diferença entre o poder das palavras e o poder dos nomes foi muito interessante.
E não posso deixar passar a menção ao Elodin sem falar da cena do "alguém tão estúpido para fazer isto não merece ser ensinado por mim" que é absolutamente genial e que arranca uma gargalhada a qualquer leitor.
A história é, até agora, muito pouco interessante. Tem potencial, tem, mas ainda não chegou nem perto do que promete. Basicamente digo isto porque não me interessa especialmente saber o que vai acontecer depois. Nem saber o que aconteceu antes. O final, aquele capítulo final, com a conversa entre o Blast e o Cronista deixou-me com alguma curiosidade, confesso. Mas no geral, não houve nada que me encantasse ou que deseje muito ver acontecer. A história com o Draccus, por exemplo, não me convenceu nem um bocadinho. Sim o Kvothe é o maior da aldeia, ok, já percebemos. Mas, ou me falou qq coisa ou a história do bichano ter aparecido do nada e aparentemente nunca ter sido visto é apenas incongruente.
Este é um livro, como o são todos os primeiros volumes de séries, de apresentação. Apresentação do mundo, dos personagens e da história.
E as personagens deixam-me com uma certa miscelânea de emoções.
Extremamente bem construídas, interessantes mas com as quais não consegui criar uma grande empatia.
Sim, o Kvothe tem potencial. Mas até agora é apenas o miúdo prodígio, fabuloso em tudo e com uma sorte dos diabos.
E o facto da história estar a ser contada pelo Kvothe impede-nos de conhecer verdadeiramente as outras personagens. A Denna que nos é apresentada é sempre a que o Kvothe venera (o Blast já deu umas indicações de que talvez não seja tão linda e perfeita como nos é apresentada), o Ambrose é sempre o mau da fita visto pelos olhos do Kvothe.... e sim, eu percebo perfeitamente que há aqui uma questãozinha relacionada com o facto de termos um narrador não confiável.
Mas nem tudo é mau.
Há um enorme potencial nesta história. As minhas duas personagens favoritas - o Elodin e a Auri - têm tudo para crescer, podem tornar-se personagens com um papel muito importante e interessante. Ainda espero que o Abenthy dê um ar de sua graça (nunca percebi porque raio o Kvothe não o foi procurar mas ok, jornada do herói!). Agora que o Kvothe finalmente entrou nos arquivos, a história dos Chandrian pode ser desenvolvida e a coisa começar a tornar-se interessante.
Acho que é unânime que a melhor parte deste livro é a escrita do autor. Ele escreve muito bem e isso faz com que seja fácil ler este livro. Nem sempre a fantasia consegue conjugar a necessária escrita fluída com uma escrita bonita. Ouvi algures alguém dizer que, mais que escritor, Patrick Rothfuss é um poeta. E eu estou completamente de acordo. As canções/histórias que vão aparecendo são maravilhosas.
Para além de um ou outro apontamento não é um livro divertido (o que me deixa sempre feliz, não tenho paciência para tentativas de humor). Por outro lado há imensas passagens que apelam à reflexão e isso, sim, é algo que me conquista sempre.