Shut Down
Pouso o telefone. Pego no livro, leio umas páginas, páro, terei resposta?, leio mais um pouco, pego no telefone, sou tola, não perdi absolutamente nada, pego novamente no livro e, depois de mais umas páginas lidas, páro e volto a pegar no telefone, apenas para ver uma resposta, um comentário, uma foto.
Eu, que leio, que sempre li, em todo o sítio; que quando era miúda lia livros de uma assentada; que não ouvia (juro que não ouvia) quando falavam comigo; que passava horas seguidas a ler; que rejeitava convites para brincar antes de acabar aquele livro, dou por mim a ter dificuldade em ler uma, duas horas seguidas sem parar para ver o que se passa naquele mundo tão pouco real.
E isto assusta-me p'ra caraças.
As redes sociais têm coisas maravilhosas. O que já aprendi, os amigos que já fiz. Os livros que já descobri. As gargalhadas que já dei. As lágrimas que já chorei. Os abraços que já partilhei.
Mas esta dependência está a começar a enervar-me. E eu só tenho 1 rede social e meia. Twitter e Instagram. No instagram passo muito pouco tempo. O twitter é que dá cabo de mim e me rouba tempo a mais.
Tenho que reaprender a não pegar, quase sem pensar, no telefone. Eu já acabei há muito com as notificações, agora tenho que acabar com este vício. Estabelecer regras, limites, reduzir a minha presença online. Há muito que o meu sonho é poder ir para qualquer sítio, desligar o telefone durante uns dias e não ser nada. Nem filha, nem amiga, nem prima, irmã ou vizinha. Apenas ser eu (e ele, claro). E é tão fácil (e tão difícil) fazer isto virtualmente.
Hoje vou apontar quantas vezes pego no telefone sem que ele toque, quantas vezes esse tempo foi perdido ou quantas vezes me trouxe algo positivo. Vou fazer um esforço para evitar as redes sociais e perceber o nível de ansiedade ou de paz que isso me traz. Vou começar a dar mais atenção a este meu comportamento para o tentar alterar.
Parece, e é, contra-senso escrever um post sobre isto. E não, não é por ser público, que a decisão tem um peso maior, não é por ser público que a probabilidade de não esquecer um objectivo aumenta, não é por ser público que não falharei. Até porque não estou a estabelecer nenhum objectivo, não vou apagar as contas nas redes sociais onde estou (já o fiz no passado e, por exemplo apagar o facebook, foi das melhores coisas que fiz na vida. Escrever aqui nunca me tirou horas de vida. Minto, houve uma altura que todos os dias ia ler os post novos de uma infinidade de blogs. Usava agregadores, tinha categorias e durante anos não perdi um post. Mas essa fase passou e agora tenho uma relação absolutamente saudável com os blogs: volta e meia dou uma volta pelos meus preferidos mas sem uma cadência definida. E isso para mim está óptimo. É isso que quero para todas todas as redes sociais: que sejam mais, que acrescentem e não me façam ser menos.