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Ler por aí

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13
Fev19

Por amor aos livros

Patrícia

Diz a editora Maria do Rosário Pedreira, no seu Horas Extraordinárias:

Por mais que Umberto Eco nos tenha assegurado em variadíssimas entrevistas que o livro nunca vai morrer, a verdade é que todos os dias me convenço mais de que, se as coisas não mudarem muito depressa em relação ao excesso de atenção dada por jovens e adultos aos dispositivos digitais, a leitura a sério (não só em papel, mas em profundidade, com as sinapses todas a funcionar) tem os dias contados (excepto para a pequena minoria que não desiste, e ainda bem).

Ora, também eu me convenço que sim, as coisas têm que mudar.

Por um lado não acredito que o livro alguma vez vá morrer. Basta olharmos para o exemplo de Portugal e percebemos que o principal interveniente da coisa não o faz por dinheiro. Falo, obviamente, dos escritores. Os que conheço escrevem por amor à escrita, escrevem porque querem e têm que escrever ou por qualquer outra razão que eles lá sabem mas , parece-me, não é por dinheiro, que raros são os casos que podem "viver e comer" do que ganham com os livros. Há quem traduza, há quem edite, há quem faça outra coisa qualquer... mas por cá, não se vive da escrita. Aliás, isto é tão assim que há quem ache que escrever não é bem uma profissão e que não há mal em pedir um texto, só por favor... A verdade é que um dos problemas é esse, é que escrever não é bem uma profissão mas devia ser. 

Por outro lado, não sei se acredito bem nessa história de haver menos leitores... Acho que até há mais, mas há mais livros, outros formatos e, acima de tudo, uma democratização das leituras, uma acessibilidade diferente. E é aqui que, na minha opinião, reside o problema.

Não é a leitura pela rama (que a há), nem os maus livros (que também os há), nem os dispositivos electrónicos e a atenção exagerada que os jovens e adultos lhes dão (que dão, é certo) que está a matar o livro. O que, para minha grande tristeza, está a sucumbir, é a edição em português. E com isso, a edição de livros escritos por escritores portugueses. 

Deixem-me dar-vos o meu exemplo.

Sou leitora, gosto de ler em português e livros de escritores portugueses (cerca de metade dos livros que leio são de escritores portugueses), compro mais do que leio (e lerei, num mau ano de leituras, entre 20 a 30 livros por ano). Compro parte dos livros em formato digital (sejam ebooks ou audiobooks) e parte em formato físico (gosto muito de ter uma, ou várias, estantes cheias de livros). Tenho a sorte e o privilégio de poder comprar os livros que me apetece e a minha consciência é uma treta e não me permite fazer downloads ilegais.

Mas a verdade é que os livros são caros, estão acessíveis com uma facilidade tremenda - qualquer nabo  informático tem acesso a todo os ebooks e audiobooks que quiser sem gastar um tostão (especialmente se ler em inglês ou não for esquisito com o PT-BR) e a maioria dos jovens ganha uma miséria que mal lhe dá para ir beber um copo ao fim de semana quanto mais para comprar livros - que estão, seja através de downloads ilegais ou de uma biblioteca, plenamente acessíveis de borla.

A questão nem é ler ou não ler... é comprar ou não comprar! E enquanto todos nós - leitores e editores - não tivermos consciência disto e não mudarmos alguma coisa, a coisa vai piorar.

Não me venham com merdas: antigamente lia-se mais? Não me façam rir. A sério, não façam. Uma elite lia mas a maioria? Não, sorry mas não. 

Lê-se o suficiente? Não, nem de perto nem de longe. Mas lê-se mais do que se lia.

Antes comprava-se em livrarias. E ia-se à biblioteca.

Agora, compra-se em livrarias e alfarrabistas, vai-se à biblioteca...compra-se (e vende-se) no OLX, facebook, alfarrabistas (sou fã), livrarias, livrarias online, "saca-se da net", troca-se com amigos  (também sou fã), compra-se em ebook, em audiobook, manda-se vir de sites de troca.

E muitas vezes faz-se isto porque se quer ler logo e as traduções tardam, porque se vive no presente e no futuro e esperar é uma seca, porque se os outros lêem, nós também queremos ler.

Eu não tenho soluções.. faço a minha parte, comprando livros em Português, não alinhando no que chamo carinhosamente de "mafia dos livros no facebook" ... mas faço-o porque posso, essa é que é a verdade. 

 

 

 

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