Piranesi, De Susanna Clarke
Quando vi que a escritora do fabuloso Jonathan Strange and Mr Norrel tinha, finalmente, escrito outro livro tive mesmo que o comprar.
Continuamos no domínio do fantástico mas Piranesi é outra coisa. Uma espécie de fantasia mais filosófica, talvez.
Piranesi (chamemos-lhe assim, tal como faz o Outro) é um homem que não sabe como se chama e que vive numa enorme mansão, com milhares de salas, vestíbulos e estátuas, com marés que inundam os andares inferiores. Nos andares superiores é mundo das aves e dos céus. Piranesi acredita que é o 15º ser humano daquele mundo, que naquele momento apenas ele e o Outro estão vivos e que é seu dever velar pelos 13 que vieram antes dele e de cujas ossadas toma conta. Nos encontros das terças e quintas, ele e o Outro continuam a sua busca pelo Conhecimento Supremo.
Cedo na leitura nos apercebemos de todas as incongruências desta história, que nos é contada na primeira pessoa através das páginas do diário que Piranesi vai escrevendo, em que um homem sabe coisas que não devia saber e não sabe como as sabe. Quem é, quem foi Piranesi? Quem é o 16º ser que começou a deixar mensagens escritas pela casa?
Num livro que "primeiro se estranha e depois se entranha" é escolha do leitor lê-lo como história de fantasia ou parar de vez em quando para pensar no ser humano, nas suas escolhas, no poder da solidão e nas escolhas que nos fazem humanos. Tal como em cada bom livro de fantasia.