Orlando, de Virginia Woolf
Quanto mais leio de Virginia Woolf mais tenho vontade de ler.
Orlando - Uma biografia é, antes de mais e na minha opinião, mais um ensaio que um romance ou uma biografia.
De novo, é o vislumbre da mulher (Virginia Woolf), das suas opiniões, da sua visão do mundo, o que mais me agradou neste livro. E é muito difícil saber o que escrever sobre ele. Por um lado porque já tudo foi escrito e por quem sabe bem mais do que eu, por outro porque fico com a sensação que precisava de uma nova leitura para chegar perto de compreender verdadeiramente as várias dimensões deste livro.
Numa altura em que as questões de género estão na ordem do dia - e parecem ter sido inventadas hoje - a personagem Orlando tem especial interesse. Começa por ser homem e ter uma grande paixão e um dia, simplesmente e sem ser grande surpresa para quem o rodeia, acorda mulher. Fisicamente mulher. A transição para o género feminino comummente entendido como tal pela sociedade demora mais tempo. A ambiguidade sexual, as convenções sociais associadas ao género, o lugar da mulher, do homem, na sociedade, no tempo e no espaço são dissecados e analisados neste livro. E como em qualquer boa resposta, levantam mais questões e oportunidades de análise do que dão respostas.
O tempo é outra questão. Passado e presente confundem-se e não nos é difícil aceitar que Orlando vive mais de trezentos anos, que a imortalidade se pode condensar num poema, que a literatura atravessa o tempo sem dar conta. Virginia Woolf, como qualquer escritor, vive nas páginas e nas vidas dos seus leitores.