Odeio o Natal
Não é pelo trabalho que dá, sempre gostei de preparar tudo, nem pelo trabalho de comprar presentes, coisa que adoro fazer, mas porque sair da rotina é algo com que a minha mãe – e por consequência, eu – não lida bem, o que me faz ter que compensar isso de forma excessiva – e por mais que já me tenha habituado ao papel de palhacita, não é algo que me saia naturalmente ou que me deixe confortável. Além disso cansa imenso, acabo sempre estes dias pejados de eventos sociais como se tivesse levado um enxerto de porrada.
Um dia sentir-me-ei à vontade e com vontade de escrever um pouco sobre como é viver com alguém que tem demência, mas hoje ainda não é o dia. Hoje falemos de Natal e de livros, claro, que este é um blog que trata de coisas verdadeiramente importantes como o facto de que um livro (ou mais, vá) pode salvar o Natal.
Em primeiro lugar temos que concordar que um livro é o único presente perfeito que existe. É um facto e nem sequer merece muita discussão. Acho que há posts suficientes neste blog onde digo que oferecer um livro é uma prova de amor pelo que não o vou repetir, mas é outro facto. Portanto ofereçam livros (com talão de oferta) a quem gosta de livros (não, ninguém que goste de livros tem livros a mais), ofereçam livros a quem não gosta lá muito (escolham bem e com amor – há, por exemplo, novelas gráficas que funcionam muito bem nestes casos), ofereçam livros aos miúdos (isso é quase um serviço público) e aos adolescentes (a quem, através de um livro podem dizer coisas que de outro modo não conseguiriam). Além disso um livro é um presente fácil de comprar, geralmente não esgota e numa só loja despacham a malta toda (salvo seja, claro).
Depois temos que concordar que o melhor momento do Natal é quando, no dia 25 à tarde ou à noite, depois da casa arrumada, com luzes de natal ligadas e ainda com uma mesa cheia de gordices natalícias, nos enroscamos no sofá a ler a um livro e estamos finalmente em silêncio. Desde pequena que este é o meu momento favorito. Na altura em que o dia de Natal ainda era passado na casa da minha avó com toda a família, o momento em se sentava num canto, escolhia um da pilha de livros novinhos em folha que tinha recebido e começava a ler era o momento em que me sentia mais eu e estava mais feliz.
Desde muito cedo toda a gente percebeu que livros eram a minha cena pelo que acabava cada Natal com uma pilha de uma dúzia de novas leituras e aqueles dias em que sabia que tinha um livro ainda por ler eram dias felizes.
Oferecer livros tem outra vantagem e esta para quem compra – a probabilidade de não haver um livro para oferecer é absolutamente desprezível. Há sempre uma alternativa, as livrarias estão abertas até quase à hora da consoada (os presentes comprados na 25ª hora têm outro encanto e importância, não é?), podem ser comprados com antecedência, online, no supermercado e até nas estações de serviço. É um bocadinho como o vestido preto, ofereço um livro e nunca me comprometo.
Ah e claro, um livro comprado para oferecer pode sempre ficar para nós – há coisas que acontecem, seja encontrarmos outro presente para a pessoa, seja porque aquele era um presente-reserva-não-me-vá-ter-esquecido-de-alguém ou porque não naquele momento não tínhamos mais nada para ler e era absolutamente fundamental ler um livro. Acontece. Pelo menos a mim. Nunca tenho nada para ler.
A todos um feliz Natal, com paz, saúde, gordices e, claro, livros.