29
Jan11
O Tigre Branco, de Aravind Adiga
Patrícia
O Tigre Branco arrebatou por unanimidade o Man Prémio Booker Prize de 2008, um dos mais prestigiados galardões literários a nível mundial. Ainda antes da sua nomeação para o prémio, O Tigre Branco era já apontado como um dos melhores romances do ano e Aravinda Adiga como uma grande revelação e um extraordinário romancista. A shortlist para o Booker era composta por candidatos muito fortes, muito embora O Tigre Branco tenha conquistado o júri a uma só voz. Romance de estreia, entrou de imediato nas preferências dos críticos, que o classificaram como "uma estreia brilhante e extraordinária". O livro revela uma Índia ainda muito pouco explorada pela ficção, a Índia negra, violenta e exuberante das desigualdades socioculturais. Toda a obra é uma longa carta dirigida ao Primeiro-Ministro chinês, escrita ao longo de sete noites. O autor da carta apresenta-se como o tigre branco do título, e auto-denomina-se um "empreendedor social". Descrevendo a sua notável ascensão de pobre aldeão a empresário e empreendedor social, o autor da carta, Balram, acaba por fazer uma denúncia mordaz das injustiças e peculiaridades da sociedade indiana. Fica assim feito o retrato de uma sociedade brutal, impiedosa, em que as injustiças se perpetuam geração após geração, como uma ladainha que se entoa incessantemente ao ritmo de uma roda de orações. São muito poucos os animais que conseguem abrir um buraco na vedação e escapar ao destino do cárcere eterno. O Tigre Branco é um deles.
Este livro fez-me companhia numa viagem a Paris. Escolho os livros que levo para as minhas viagens com base no tamanho (depende dos dias que vou ficar lá fora) e pela qualidade (a expectável, pelo menos). E com este livro tudo correu bem. Comecei a lê-lo do avião rumo à cidade da luz e terminei-o no regresso a casa.
O livro é muito, muito bom. É divertido, sério, mordaz, triste, acutilante de muitas formas.
Balram, ao longo de 7 noites, conta a sua história e vida enquanto explica as duas faces da India, a da luz e a da escuridão, ao primeiro ministro chinês. Por carta.
não vou contar a história porque não quero estragar a leitura a ninguém, mas posso dizer que é a história de um self-made man, de uma escalada social num país onde isso é praticamente impossível.
Balram viaja entre a inocência e a não inocência ao longo deste livro e nós acompanhamo-lo, às vezes com um sorriso outras com uma gargalhada mas principalmente com um misto entre incredulidade e vergonha.
Há tanto tempo que não lia um livro assim, daqueles que nunca vou esquecer.