O teste do tempo
Fiquei a pensar nas leituras de clássicos da literatura depois de ler o post da Sara “10 razões para ler clássicos”.
Ouvi algures (acho que foi no primeiro episódio do Biblioteca de Bolso quando o “D. Quixote” foi sugerido) que há livros que pela sua dimensão só se lêem na adolescência ou na reforma. Concordo absolutamente com isso e, apesar de ficar feliz com a profusão de livros que existem para miúdos/adolescentes, com a existência de bibliotecas e com a predisposição dos pais em investirem em literatura, acho que os clássicos vão perder alguma da sua importância com isso.
Quem é o miúdo/adolescente que vai pegar num clássico velhinho, com a capa feia e um cheiro a livro velho (eu adoro livros mas não me venham com cheiro a livro velho que começo já a espirrar, sim?) e com uma linguagem não adaptada aos dias de hoje se tem ali à mão de semear o último best seller? Posso estar errada mas diria “muito poucos”. Eu adorava ler mas o meu “eu adolescente” preferia livros novos e de aventuras.
É verdade que há sempre quem goste de clássicos (um beijinho, Sara) mas a verdade é que a maioria de nós leu Agatha Christie porque havia em barda nas feiras do livro (uma vénia à coleção vampiro) e alguns clássicos porque não teve “alternativa”, porque tinha imenso tempo para gastar e porque não nos deixavam ir para a rua nas horas de maior calor.
Li um dos meus livros favoritos (O conde de Monte Cristo) precisamente porque estava em casa da minha avó e não tinha “nada para ler”. Não li muitos clássicos mas li (várias vezes) livros como Terra Bendita de Pearl S. Buck (sem ter a noção de que estava a ler um prémio Nobel da literatura ou provavelmente tinha-me acagaçado), Os três mosqueteiros ou Jane Eyre. E nem falo dos clássicos portugueses (alguém ainda lê Júlio Dinis? Mamãe fez-me ler aquilo tudo no verão dos meus 12 anos, acho)…
E não consigo deixar de pensar que esta geração privilegiada que tem sempre livros novos por ler fica a perder algo por passar ao lado de alguns destes livros na altura da sua vida em que o tempo não é um recurso escasso.