O deserto dos tártaros, de Dino Buzzatti
Um dos livros que li nos últimos tempos foi este O Deserto dos Tártaros, escrito em 1940 pelo escritor italiano Dino Buzzati. É um livro sugerido de forma recorrente nos vários clubes de leitura em que fui participando ao longo dos tempos e li-o finalmente porque foi o livro escolhido pelo moderador para ser discutido numa dessas tardes de partilha literária.
A minha primeira impressão foi que é um livro surpreendemente fácil de ler tendo em conta que não se passa (quase) nada ao longo daquelas páginas.
Giovanni Drogo, jovem e oficial, é destacado para a Fortaleza Bastiani, uma posição remota na fronteira, onde nada se passa mas que tem um estranho efeito por aqueles que ali vão chegando. Em época de paz, só a disciplina férrea dos militares permite que se continue a patrulhar a fronteira e defender o reino. A disciplina e a esperança de glória. Drogo acredita sempre que, um dia, terá o seu momento de glória. Sonha com um ataque à fortaleza que lhe permita mostrar aquilo que sabe ser: um homem corajoso.
É sobre esse desejo de gloria e sobre escolhas (ou sobre a escolha que é a própria ausência de escolha) que trata este livro. Onde se traça a linha entre ser perseverante no caminho e o medo de arriscar novos desafios?
Foi muito interessante ouvir outras pessoas a falar deste livro que tantas interpretações tem e constatar, uma vez mais, que o leitor se apropria da história. Há quem veja aqui uma história de esperança, de perseverança, de uma vida plena de significado. Há quem só consiga ver uma vida perdida à espera de nada, dedicada a uma falácia, uma vida quase inútil, de medo de arriscar.
É verdade que não se passa nada, ou quase, nesta espera pelos tártaros mas este é um livro que que gostei de ler e que ficará comigo muito tempo.