O Cardeal, de Nuno Nepomuceno
Começar o ano de leituras com um livro do Nuno já se tornou uma tradição. É verdade que li este livro em Fevereiro mas foi o primeiro que comecei em 2021 (sim, levei quase 2 meses a ler o Rhythm of War).
Este é o quinto livro da série Afonso Catalão. Um óptimo livro (mas o Pecados Santos continua a ser o meu preferido) que li num instante. Capítulos curtos, leitura rápida como se quer num thriller. Tem, como não podia deixar de ser nesta série, uma grande componente religiosa. Mas cada vez mais o autor explora outros caminhos e isso foi algo que me interessou bastante.
É perfeitamente possível lê-lo sem ter lido os anteriores mas a verdade é que nestas páginas há demasiados spoilers para os livros anteriores o que, para quem gosta de começar a ler cada livro sem saber nada da história, pode não funcionar muito bem. Por outro lado, a forma como o autor recupera alguns pormenores importantes dos livros passados, pode ser visto como uma espécie de provocação para quem não os leu. Quem tem "memória de peixe de aquário" e não gosta de séries porque "já não me lembro dos outros" pode começar esta leitura sem medo.
Logo de início somos confrontados com a morte de uma criança e de uma idosa. O principal suspeito já é um nosso conhecido, o Adam, e cedo na história percebemos que Afonso pretende descobrir se ele é, ou não, o culpado. Não pensem que os crimes do Nuno ficam por aqui, até porque, como já é habitual, neste livro são exploradas duas histórias distintas, a que se passa em Cambridge e a que se passa no Vaticano. E mais não digo porque não pretendo estragar-vos a leitura. Mas podem esperar crimes macabros, intrigas vaticanistas e uma investigação (também por parte dos nossos já conhecidos Diana e Afonso).
Prefiro chamar-vos a atenção para alguns pontos deste livro que me interessaram particularmente e que têm sido muito referidos nas muitas opiniões a este livro. Interessei-me mais pela história passada em Cambridge que pela passada no Vaticano (talvez porque os temas explorados nessa vertente da história já o tenha sido nos livros anteriores ou por a minha "relação" com igreja/vaticano não ser lá essas coisas).
O Afonso é o fio condutor de toda série de livros e através dele temos acompanhado o percurso e a doença do Imã Yusef. Gosto que o Nuno não se esqueça de lhe fazer referências e que não seja mais uma personagem a desaparecer assim que a relevância do seu papel diminui. Essa preocupação demonstra o cuidado do autor na construção (e na coerência) dos personagens.
Também vos queria chamar a atenção para o destaque que o Nuno dá à função de cuidador. Independentemente do papel que este tema tem (ou não) para a história não queria deixar passar sem uma referência.
Houve várias perguntas que ainda ficaram sem resposta e por isso atrevo-me a dizer que a série Afonso Catalão ainda está para durar. Além de que preciso que o Nuno dê algumas vitórias à Diana.
Para quem ainda não sabe há alguns contos que ajudam a perceber algumas coisas nos livros e há um podcast, o Assassino, que é também um complemento importante a este e aos outros livros.