O Caçador do Verão
É tão bom sentir-me em casa nas páginas de um livro. O meu Algarve, a minha serra, o meu concelho… as estevas, o medronho, as curvas da serra e o cheiro do mar*. Hugo Gonçalves fez-me voltar à infância em que ouvia contar a história dos irmão assassinos que comigo e com o político partilhavam o sobrenome. Tantas vezes ouvi falar daquela fuga da prisão... E assim, com laivos de verdade feita ficção vi-me transportada para a minha própria infância, para os meus próprios dramas, que me moldaram, obrigaram a crescer, me fizeram aquilo que sou hoje.
Não é imediata a cumplicidade com o protagonista deste romance, José, mas às tantas começamos (nós e ele, acho) a compreender melhor o que o motiva, o que o faz ser a pessoa que é.
O percurso de José, a sua relação com a família, dá o mote para esta história, para um regresso a um Verão marcante, em que miúdo é abandonado pela mãe, no meio da serra, ao cuidado de uma avó que mal conhece. Um Verão cheio de aventuras, de perguntas e de respostas (nem sempre as que mais gostaríamos), de saltos para o desconhecido e para o mar e de esperança...
Acabou por ser a escrita (rápida) e o facto de me ter identificado tanto com o local e a infância de José que me cativou. Inicialmente não fiquei agarrada à história, pouco me impediria de fechar o livro e continuar na minha vida. E no fim, quando tudo fez sentido, fiquei com pena de não ter sido mais espicaçada, de não ter sido obrigada a refletir nas escolhas e nas razões de José e do Avô. Ficou, na minha opinião, o mais interessante por explorar...
Mas ainda assim muito dá que pensar neste livro. O amor está no centro da vida. Mas como escolhemos quem amar? Como amamos os que temos obrigação de amar ou como deixamos de amar quem não nos merece? O que fazemos por amor? Como podemos deixar de fazer o que nos pede quem amamos?
Fiquei com vontade de ler mais deste escritor.
* quase perdoo ao escritor/editor/revisor ter deixado passar um “foi encontrado em Fonte Santa” em vez de “na Fonte Santa”. Tal como nenhum Algarvio diz “na Quarteira” (em vez de Em Quarteira), nenhum diz “em Fonte Santa”. Só me apetece revirar os olhos cada vez que ouço isto...