Norte e Sul, de Elizabeth Gaskell
Foi, em primeiro lugar, o amor da Célia e da Carla a este livro que me fizeram dar-lhe atenção e pô-lo na minha lista de desejos (que na verdade só existe na minha cabeça). A Elisa também já me tinha falado da sua intenção de o comprar e alertou-me para o preço dele na feira do livro de Lisboa e eu, bem-mandada, fui mesmo comprá-lo lá.
Para quem está à espera da minha opinião: sim, gostei muito mesmo, obrigada pela sugestão. E não, ainda não vi a série mas vou ver. Quero muito ver.
Deixem-me começar esta opinião de uma forma uma bocadinho diferente: O que faz de um livro um clássico? O que lhe permite sobreviver ao maior de todos os testes: o do tempo? O que lhe permite conquistar leitores de várias gerações?
Mais do que apenas a escrita e a história, eu diria que é a capacidade que estes livros têm de se manterem actuais, pela forma como é criada uma ponte entre o livro e o leitor. Ora, este livro, consegue fazê-lo de uma forma magistral.
Sim, a escritora escreve maravilhosamente. Sim, o romance consegue tocar no nosso lado mais romântico. Mas é a análise social que, no meu caso, mais me interessou e conquistou.
Margaret, uma menina-mulher, filha de um pároco da igreja anglicana, regressa a casa depois de alguns anos em Londres (onde viveu, por forma a receber a melhor educação possível) e em vez da paz e sossego que esperava depara-se com uma crise de identidade do pai. Assim, toda família acaba por se desenraizar, deixar Helstone, aldeia do sul de Inglaterra, e estabelecer-se em Milton, uma cidade extremamente industrializada onde o Sr. Hale vai dar aulas particulares.
As diferenças e choques culturais entre o Sul e o Norte de Inglaterra do Sec XIX são-nos contadas através de vários personagens. John Thornton, o industrial rico, vê-se a braços com uma greve. Do lado dos trabalhores, um sindicalista, Nicholas Higgins e a sua filha Bessy são os rostos de uma revolução industrial que não teve apenas consequências positivas. Boa parte do livro debate questões sociais, analisa todos os lados desta greve e essa parte é extremamente actual. Os argumentos, parte a parte, são os mesmos de hoje em dia. A luta por melhores condições de trabalho, o desespero por parte de quem dá a vida a trabalhar e, ainda assim, se vê desvalorizado a cada passo.
Não consegui deixar de comparar este romance, entre Margaret e Jonh com outro, com o de Elizabeth e Darcy, no Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Na verdade, orgulho e preconceito era algo que não faltava a Margaret e John. Mas nem isso me impediu de torcer por este amor, confesso. Fofinhos os dois.
Gostei muito da forma como a escritora desenvolveu os personagens. O seu crescimento foi enorme ao longo do livro. Especialmente o de Margaret. John, um homem inteligente, capaz de ouvir, de inovar e de crescer sem perder a integridade.
Confesso que criei desde as primeiras página uma enorme empatia com Margaret. Criei esta empatia porque acreditei nela. Acredito que o que vivemos nos molda. Acredito que os erros nos ensinam. Acredito que ser capaz de olhar para dentro de nós, com sinceridade, nos leva a julgar os outros com maior justiça.
Poderia continuar a escrever sobre esta histórias e sobre os seus personagens, poderia falar-vos das mimadas Edith e Fanny, da maravilhosa Sra. Thornton, do Sr. Bell ou da Sra Hale e da sua mais fiel amiga. Mas deixo-vos conhece-los nas páginas deste Norte e Sul.