Nem todas as baleias voam, de Afonso Cruz
Não sei se o Afonso Cruz tem razão quando nos avisa, às páginas tantas, que "o contacto com o mal pode ser redentor". Mas sei que li este livro, de uma ponta à outra, com o coração apertado, com a alma em frangalhos. Foi com o Flores que me reconciliei com o autor dos Guarda-Chuvas e agora.. isto.
Na minha opinião ninguém tem tanto talento para contar a maldade, a crueldade, a tristeza e a solidão como Afonso Cruz. Há muitos a cantar a tragédia, há poucos a fazê-lo com beleza. A mestria com as palavras, a forma como o escritor nos destrói de uma forma luminosa chega a ser irritante.
Senti muitas vezes, ao longo desta leitura, que este é um livro de excessos. Seriam mesmo necessários tantos episódios cheios de crueldade?
Este livro está cheio de personagens geniais. Tristan entrou directamente para a minha lista de personagens favoritos. Este menino e a sua caixa de sapatos conquistaram-me.
Há quem diga que este livro conta uma história de amor, há quem destaque a música que se ouve em cada página. Mas eu li, acima de tudo, uma história de solidão. De como a solidão mata, de como a solidão destrói, de como se pode viver em solidão no meio de tanta gente, de como podemos ignorar a solidão dos outros, de como se vence a solidão. Solidão, Solidão, Solidão.
Acho que este vai ser o meu livro favorito do AC (e a todas as pessoas que eu massacrei ao longo desta leitura só consigo dizer: eu não sou completamente maluca e continuo a achar que há aqui muita crueldade mas a história do Tristan conseguiu dar-me a volta...)