Não é possível que já seja Novembro
O tempo, relativo ou não, passa demasiado depressa. Não, ainda não venho falar de Natal nem fazer-vos sugestões de livros-presente (claro que um livro é sempre o presente certo), isso fica para o mês de Dezembro. Não tenho andado a ler muito e não prevejo vir a fazê-lo no próximo mês. Desde o A Guardiã li apenas dois livros. O primeiro foi o Os Crimes do verão de 1985 de que não fiquei fã - demasiadas incongruências para mim, sou uma pessoa que sofre dos nervos quando deixo de acreditar no que estou a ler. Esta minha característica é tão amada quanto questionada no meu grupo de leitores. Amada porque é uma risota completa quando eu começo “ora vamos lá a ver, então cabe na cabeça de alguém que esta merda pudesse acontecer?” ou “a sério? Querem mesmo convencer-me que alguém espirra sempre que levanta o dedo mindinho da mão direita e dá três passos em pé coxinho?”. Questionada, porque me perguntam como raio eu sou tão picuinhas com determinados livros mas falo de dragões e fantasia como se acreditasse piamente que aquilo é verdade. A resposta é simples, a questão da verosimilhança é, para mim enquanto leitora, bastante importante. Quando eu estou a ler um livro tenho que acreditar no que está ali.
Enquanto eu estou a ler Fantasia ou Ficção cientifica, acredito que aquele mundo, aquelas regras, são reais. E a verdade é que os leitores de fantasia e FC são, por definição, uns chatos do catano com esta questão da verosimilhança dada uma determinada premissa. No worldbuilding de um livro de fantasia é estabelecida a premissa, a definição das regras é feita e no final aquilo tem que bater certo, de acordo com aquelas regras. Para inventar regras a meio é preciso ter muito cuidado (o Sanderson é exímio nisto porque quando relemos os livros percebemos o quão bem definidas estão as regras mesmo que só mais tarde saibamos que existem). Quando estou a ler ficção passada na nossa realidade, tudo o que ali está tem que ser compatível com aquilo que conheço, uma espécie de “se non è vero, è ben trovato”. Num romance histórico passado no século XIX não pode haver telemóveis. Acho que assim toda a gente percebe o que quero dizer. E sim, eu sei que que há imensa coisa (especialmente mentalidades/higiene) nos romances de ficção histórica que não correspondem à época e confesso que isso não me agrada mas admito algumas liberdades a bem da estória. Só que há coisas que não são verosímeis. Às vezes basta uma grande, outras vezes são as várias pequenas que me enervam. No caso deste policial começou por me enervar a atribuição de uma reportagem de um caso de pedofilia a um dos personagens, reportagem essa extramente conhecida, aquilo pareceu-me preguiça. Depois foi a inclusão de todos os casos (e mega processos) possíveis e imaginários (ao contrário do que possa parecer, uma bela dose de realidade não ajuda a fazer de um policial uma leitura interessante). E não esquecer as cenas do “a sério?” começando com uma determinada cena num beco e terminando na personagem do padre (claramente o autor conhece pouco da vida numa pequena paróquia em particular e da igreja católica em geral – isso ou o padre ganhou o euromilhões e cortaram essa parte do livro). Enfim, o livro terá as suas qualidades porque tem sido extremamente bem recebido mas não me agradou, certamente pela minha picuinhice habitual.
O outro livro que li foi o A impostora, da R. F Kuang e também não achei um livro de entrar para os tops. Não criei anticorpos a este livro mas, apesar do tema principal – o mercado editorial – ser um bombom para qualquer leitor, achei-o chato a um determinado ponto, cheio de clichés e com um final típico da escritora – cheio de violência despropositada. Pareceu-me um livro escrito pelo poder da raiva e isso até pode ser surpreendente mas não será memorável.
Já a leitura em andamento – Os Rostos, de Tove Ditlevsen – tem tudo para ser uma leitura fabulosa mas sobre isso falaremos num próximo post.