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Ler por aí

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01
Fev23

ler mulheres, eis a questão

Patrícia

Ando a pensar neste post há alguns dias, já tive algumas coisas escritas mas acabei por apagá-las porque já sei que vai ser polémico. Ou melhor, que seria polémico em qualquer outra plataforma que não esta. Os blogs são, neste momento, a rede social mais pacífica e educada que existe. E talvez seja essa (falta de) exposição que cada mais me agrada.

Um amigo meu diz sempre, só para me irritar, que "não lê mulheres". Na verdade, esta frase é uma velha piada nossa porque ele já sabe que "afino" sempre e lhe sugiro uma resma de livros, escritos por mulheres, que, invariavelmente, ele não vai ler. Estou a ser injusta, consegui pô-lo a ler Chimamanda (esta vale por muitas, certo?). Outra vez, num encontro com um escritor, perguntei-lhe (depois de ele responder apenas com nomes de escritores homens à pergunta "que autores sugere?") "e autoras mulheres, quem sugere?" e a resposta foi uma qualquer variação de "não leio mulheres". A este fiz um risquinho mental e decidi nunca mais ler um livro dele (sim, tenho ódiozinhos de estimação). Agora ando a ouvir o podcast "Vale a pena" da Mariana Alvim e, talvez por estar a ouvir vários episódios de uma assentada, é impossível não perceber que o homens que lá vão raramente sugerem livros de autoras mulheres. 

Calma, não são todos, nem sempre, mas é claramente uma tendência. E na verdade nem acho que seja consciente. Não acho que os homens leiam maioritariamente livros de homens por não quererem livros de mulheres. Mas acho que as mulheres são muito menos preconceituosas nas leituras. 

Acho que nesta altura devo reforçar que odeio, abomino, a terminologia "literatura feminina". Pode haver (e há) literatura "feminista" mas este conceito de "literatura feminina" é associado, por mulheres e homens, a literatura de menor qualidade e até é considerada (geralmente por mulheres) como um "guilty plesure", algo que se aprecia com uma certa vergonha por, lá está, ser de baixa qualidade literária. Eu, por mim, acho que há bons e maus livros mas que associar algum tipo de livro a um género é só parvo. 

O que eu vejo, no meu grupo de amigos "dos livros", é que cada vez mais, mulheres e homens, fazem um esforço consciente para ler mais mulheres porque se aperceberam de um desequilíbrio nos géneros dos autores dos livros que liam. Esse esforço consciente rapidamente se tornou norma e, no meu caso, deu-me a conhecer todo um mundo de novas autoras que me ajudam a construir enquanto leitora e pessoa. 

E sim, "um bom livro é um bom livro quer seja escrito por um homem ou por uma mulher" mas quem usa este argumento para evitar olhar para as desigualdades da sociedade em geral e do panorama literário em particular, precisa parar e começar a olhar à volta. 

(e eu até já sei quem me vai deixar aqui um comentário só para me tentar irritar um bocadinho. provavelmente vais conseguir mas eu gosto de ti à mesma)

 

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