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Ler por aí

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14
Abr24

Imagine...

Patrícia

Imaginem que, como tantas vezes acontece nos livros e cada vez parece poder acontecer na realidade, há um evento que muda tudo e que toda a informação se perde, todos os registos da história desaparecem e que o habitante nerd do planeta terra no ano 2789 encontra um exemplar de um livro publicado no ano da graça de 2024 e que esse livro é aquele cujo nome recusamos pronunciar e publicitar mas que todos sabemos qual é. Imaginem a bitola do que é o ano de 2024 em Portugal ser aquele livro bafiento, insultuoso, ridículo, triste. 

Mas é bom que tenha sido publicado. Liberdade de expressão acima de tudo.

Mais vale que tenhamos a consciência de que a luta pela igualdade, pelo equidade, pelo direito a ser diferente, pelo respeito, pelo direito de não ser ordinário ainda é necessária. Mais vale que tenhamos a consciência que, apesar das mulheres terem conseguido igualdade consagrada na lei, que o casamento e a adopção por casais homossexuais seja uma realidade legal, que a IVG e os direitos reprodutivos  estejam previstos, nada está seguro. Gileade não existe apenas nas páginas do livro da Margaret Atwood mas também nas mentes desta gente. Sempre existiu. E é importante perceber porque é que neste momento se sentem seguros para saltar para a ribalta, para dizer em público o que deviam ter vergonha de dizer em privado. Além disso é bom que nas próximas eleições (europeias e presidenciais) nos lembremos disto. Está na altura de, finalmente, saltar de cima do muro, escolher de que lado se está. Este é um caso de "se não estás connosco estás contra nós", não é possível de outra forma. Não é possível aceitar apenas parte (e a parte fofinha) do que determinados grupos, pessoas, partidos defendem - se os direitos fundamentais, aquilo que faz de nós pessoas, não for o mais importante, então meus amigos, sim, são machistas, homofóbicos, racistas, xenófobos. 

Ah, lá estás tu a exagerar, é só um livro.

Não tenho a mínima dúvida que vou ouvir isto. É na linha do que sempre ouvi quando me recuso a receber flores ou os "parabéns" no dia da mulher. Lá estás tu a exagerar.

Parece que neste momento deixou de ser um dado adquirido de que somos pela família. Por todas as famílias onde haja amor e respeito. Famílias de todos os géneros, desde que não haja violência e terror. Eu cresci numa família monoparental. Fui educada uma mulher forte que sempre me transmitiu a importância de ser independente. Uma mulher que, quando era miúda, se recusou a aprender costura porque o que queria era ir estudar e sabia que o mais natural era que a obrigassem a seguir o exemplo e a profissão da irmã mais velha. Uma mulher que teve que ser mãe e pai quando o marido adoeceu e morreu. Uma mulher que optou por viver o resto da vida sozinha. Uma mulher que me ensinou que há sempre uma frigideira pesada em casa para nos defendermos do primeiro cabrão que ouse pôr-nos a mão em cima. Uma mulher que me deu livros e me deixou ter pensamento crítico. E garanto-vos que essa mulher será sempre o meu exemplo. 

Continuarei a defender a igualdade de direitos, deveres e oportunidades para todos. Mas todos mesmo. Até para estes energúmenos. Continuarei a ser feminista e a dizê-lo sem medo ou vergonha. E sê-lo hoje é ainda mais importante que ontem.  

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