09
Nov13
Filhas do Vento, de Dina Salústio
Patrícia
Quando viajo tento trazer sempre um livro novo comigo. Quando estive em Cabo Verde pela primeira trouxe o "A morte do Ouvidor" de Germano Almeida, livro que ainda está a meio. Muito bem escrito mas a história, que não é a minha, não me prendeu.
Quando regressei à cidade da Praia voltei à livraria e trouxe 2 livros.
Acho que primeiro devo falar da livraria. A melhor da cidade, super interessante, com um café (tem uns sumos divinais) com esplanada e uma boa oferta de livros - com especial destaque para os livros de autores de expressão Portuguesa (de livros "estrangeiros" a oferta era francamente má). Uma oferta, neste campo, que dá dez a zero a muita livraria Portuguesa. De lá, para além de 2 livros ainda trouxe uns ímans para o frigorifico e uma t-shirt muito gira.
Não conheço escritores cabo-verdianos (para além do Germano Almeida) pelo que pedi ajuda à empregada da livraria. Ela aconselhou-me os livros de Dina Salústio e eu escolhi este "Filhas do Vento" pela sinopse:
“Filhas do Vento” narra a relação de uma menina com a avó, um fantasma que vive dentro de um livro. Atormentada por um crime que cometeu pede à neta que a livre de uma maldição que carrega, para que a sua família e a sua terra não se percam no meio de um eclipse do tempo. Um tempo sem dia nem filhos ou noite: sem riso, ódio, vento ou mulher; sem carnaval nem homem; sem emoção e amigos ou o mar de uma baía clara. Para a salvar, a neta terá que abandonar a própria história para cumprir o destino que a avó negara, milhares de gerações atrás. Quando Susane soube do pedido teve um ataque, possivelmente de fúria, quem sabe de riso, talvez de choro. Não, na verdade – conforme a velha ama falou – “deu-lhe uma coisa e caiu para o chão”
Depois da angústia que me provocou o "A desumanização" precisava aconchegar a alma com uma história bonita. E foi exatamente isso que consegui com este "Filhas do vento". Adorei, confesso. Acho que li este livro na altura certa, a simplicidade e a magia destas mulheres eram tudo o que precisava.
Fiquei fã e vou querer ler mais livros desta escritora.
A história de Susana Vales é-nos contada de uma forma não linear, com saltos no tempo, mas perfeitamente percetível. Sú é uma perfumista de sucesso e é na festa de lançamento da sua criação "Winds" que reencontra uma velha amiga, Marta Rita, jornalista. Sú aproveita a presença de Marta para a convencer a fazer uma reportagem sobre ela. O que Marta não sabe é que ao longo de 9 dias vai ouvir uma história muito diferente daquela que esperava. É essa história que o leitor vai conhecer. Uma história que começou umas gerações antes, com um crime (?!) cometido por Brava, a avó (ou bisavó ou mais velha ainda) e com uma maldição que Susana terá que quebrar.
Apesar da presença de alguns homens (Óscar, Roberto) a voz desta história é, sem dúvida, feminina. Susana, Severa Ancra, Amapenha ou Marta, todas são mulheres interessantes e com as quais consegui criar empatia - mesmo nos momentos de maldade, vingança ou loucura. A magia presente nesta história dá-lhe um tom especial, principalmente por ser diferente de tudo a que estamos habituados.
E, posso estar a ser pouco isenta, mas "senti" Cabo Verde nesta história. A Beleza, a solidão, a loucura, a sensualidade. Enfim, as ilhas de "pedras e vento" estiveram presentes nestas páginas.