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Ler por aí

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19
Mar20

Ficções, de Jorge Luis Borges

Patrícia

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Era uma vergonha ainda não ter lido Borges. Logo eu, que tanto gosto de fantasia. A verdade é que este autor é daqueles que sempre figuraram na lista de "autores que preciso de ler" mas que "tenho algum receio de não perceber/gostar" e que, por isso, vão ficando para mais tarde. Mas desta vez (e porque foi o livro escolhido no grupo de leitura da biblioteca de Alvalade) li e gostei.

Não vos vou dizer que foi fácil. Eu não sou, já aqui o disse diversas vezes, leitora de contos. Gosto de passar tempo com as personagens, gosto de mergulhar num bom romance e ali "viver" durante algum tempo.

Nos contos é, geralmente, muito difícil estabelecer empatia com as personagens, principalmente porque ficamos sem elas muito depressa.  Mas este não é um livro como os outros. Não tem nada de banal ou fácil ou rápido. A escrita de Borges não é (e para usar uma expressão tão na moda e que eu detesto) nada fluída. Cada conto precisa de tempo, de calma. Porque cada conto tem um mundo dentro e dava, com facilidade, um romance (de muitas páginas).

O primeiro conto "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius" onde um grupo de pessoas se une para imaginar um mundo onde a realidade nasce da ideia e onde "não existe o conceito de plágio: estabeleceu-se que todas as obras são obras de um só autor, que é intemporal e é anónimo". Depois, em Pierre Menard, autor do Quixote, temos um escritor que, séculos depois, escreve o Dom Quixote, palavra por palavra. E este Quixote, o de Menard é, obviamente, infinitamente melhor que o outro Quixote, o de Cervantes. No As ruínas circulares, conhecemos um homem que quer sonhar um homem e em A lotaria na babilónia reflectimos sobre a arbitrariedade. O conto que dá nome à primeira parte deste livro, O jardim dos caminhos que se bifurcam é um genial labirinto. Funes, o memorioso, é um monumento à linguagem e à palavra. Mas um dos meus favoritos é, como não podia deixar de ser, o A biblioteca de Babel, com todos os livros que já se escreveram e todos os livros que um dia se irão escrever e todos os livros que podiam ser escritos. Que ideia maravilhosa e ao mesmo tempo, assustadora.

Irei certamente continuar a ler Borges e irei certamente regressar a este contos que pedem para ser relidos.

 

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