Este é o meu corpo, de Filipa Melo
Foi na Roda dos Livros que ouvi falar deste livro da Filipa Melo. As opiniões da Cris e da Márcia foram mais do que o suficiente para ficar com o nome na memória. Quando a oportunidade apareceu (na Feira do Livro de Lisboa) comprei-o e ainda bem que o fiz.
"Este é o meu corpo" é um livro que não deixa nenhum leitor indiferente. É uma leitura dura, sim, mas a morte é daqueles temas a que ninguém fica indiferente.
Este livro não é um policial, apesar de toda a trama rodar à volta de um homicídio. Uma mulher jovem é assassinada. As vozes que nos contam a sua história, à vez e sem pressas, são do médico legista que durante a autópsia dá voz ao corpo da jovem e lhe pede para contar os seus segredos e de outros que a rodearam em vida.
Falar de morte é, sempre e acima de tudo, falar sobre vida. E falar sobre vida é falar sobre as relações entre as pessoas. E falar sobre as pessoas é, às vezes, falar sobre animais. Falar sobre raposas e ouriços pode ser mais surpreendente do que pensam.
Este é um livro para ler, reler e guardar. E Filipa Melo é certamente mais uma escritora para acompanhar.
Confesso-te que não demoro muito a matar tudo aquilo que amo, porque, morto, posso recordá-lo e porque a memória, mais do que a vida, é o contrário da morte. Porque, graças à memória, a consciência apazigua-se à distância. E eu conspiro com a memória para amar ainda mais aquilo que mato.