22
Jun13
Debaixo de algum céu, de Nuno Camarneiro
Patrícia
Os títulos dos livros atraem-me muitas vezesmas nem sei porquê não consigo atinar com este título que até é giro, que faztodo o sentido mas que por alguma razão não me fica na memória, tenho que fazerum esforço por me lembrar da frase que sei que incluí o “céu” mas que nunca seise é debaixo de qualquer céu ou coisaparecida.
Mas vai ser difícil esquecer algunspersonagens deste livro.
Mas vamos por partes. Comecei a lê-lo semqualquer expectativas. Sim, sei bem que Nuno Camarneiro, com este livro, ganhouo prémio Leya. Mas já ouvi opiniões boas e outras más e acabei por ficar semgrande curiosidade e as expectativas bem balanceadas.
Encantei-me às primeiras páginas. Nem foi pelahistória, o que pode parecer estranho, foi pelas palavras, por uma espécie depoesia (provavelmente imaginada) que lhe senti. Li as primeiras folhas parandoem várias frases, imaginando outras, tentando absorver a história, conhecer osinúmeros personagens. Depois veio um sentimento escuro, uma nostalgia etristeza que me acompanhou até ao fim. Há livros que se explicam melhor porimagens, por cores e este é em tons de cinza e negro com alguns raios de luz(azul?) a lutar contra a escuridão.
Não égente feliz aquela e nem o toque de esperança final me mudou o sentido. Seremostodos, afinal, assim? Sem esperança, sem querer? Sem Crer?
Num livro passado em vários dias, com cada umespecificado, não pude deixar de me arrepiar com a noite de Natal daquelagente. Sou uma apaixonada pelo Natal, pela confusão da família, pelas comidas,pelos doces, pelos risos, pelos jogos. Detesto televisão no Natal, detestocasas vazias, sono, solidão. Gosto da confusão, gosto da expectativa. E a estagente faltou-lhes tudo, os risos, os beijos, a esperança, a ansiedade. Acho que foi esse o momento mais negro destelivro.
De todos os personagens interessaram-me oDavid e o Marco Moço deste início. O David pelo mistério da personagem, pelasolidão escolhida, pela tentativa de rebelião. O Marco Moço pela luz que cedolhe intuí, pela paz que transmitia, imagino-o um velho com a pele morenacurtida pelo mar e pelo sal, com voz doce e serena.
Não aconselho a que se leia este livro àespera de uma história complexa mas óbvia. E não sou daquelas leitoras queextrapola e faz paralelismos com a realidade e lê nas entrelinhas os segundos eterceiros sentidos que se imagina que os escritores quiseram transmitir. Leioum livro como ele se me apresenta, com as palavras a construírem cenas quecontam uma história. E esta é uma história fragmentada em cenas isoladas, umpuzzle que constrói uma imagem que é afinal um fragmento do todo que, sequisermos, imaginaremos.
Isto tudo para dizer que gostei deste livro,gostei mesmo muito. Não me interessa se foi premiado, se reúne ou nãoconsensos. Um livro vale pelo que consegue transmitir. E eu, por algumas horas,vivi naquele prédio.