Curtas 2017 #5 - A problemática do livro errado
Sim, eu sei que abandonar a leitura de um livro é um direito incondicional de qualquer leitor. Seria o primeiro dos artigos numa Constituição Literária que se prezasse. O problema, o meu problema, é que abandonar um livro, desistir da sua leitura é algo que me faz sentir meio traidora, como se estivesse a cometer um pecado (a educação judaico-cristã aplicada à condição de leitora dá nisto) e a diminuir-me enquanto leitora.
Mas há alturas em que é inevitável. Abandonar um livro, deixá-lo para trás, voltar a colocá-lo na estante é por vezes a coisa certa a fazer.
Nas últimas semanas ando a arrastar comigo um livro que, tenho que admitir, não me apetece ler (e não, não interessa qual é o livro, escusam de perguntar), que não me consegue agradar nem interessar. E o pior: nem sequer me irrita/incomoda/chateia. A verdade é que o livro me é absolutamente indiferente (e a indiferença é sempre o pior dos sentimentos). Pego, leio meia página e começo a divagar. Se estiver em casa é altura de ligar a TV e pôr uma série qualquer, se estiver fora de casa é certo e sabido que pego no telemóvel e me perco nas redes sociais.
Nada disto seria dramático se eu fosse capaz de ler vários livros ao mesmo tempo. Bem tenho tentado ler outras coisas ao mesmo tempo mas só pego em livros que até são bons mas que não são os livros que me apetecer ler agora, assim numa espécie de castigo "se não lês aquilo não podes ler o que te apetece" e as últimas semanas têm sido literariamente penosas.
Agora que já decidi que não vou continuar a ler o outro livro, só preciso de acabar de ler os livros que entretanto comecei a ler (com a desculpa que um era ebook - Os dez livros de Santiago Boccanegra - e outro não-ficção "A doença, o Sofrimento e a Morte entram num bar" ) e dos quais até estou a gostar bastante para voltar a entrar nos eixos enquanto leitora e recomeçar a atualizar este blog como deve ser.