Como é que lês tanto?
E desta vez a pergunta foi-me feita com genuíno interesse, por um leitor que se sentia sem tempo para ler o que queria, no final de uma interessante – e inesperada – conversa sobre livros e literatura.
Para responder a esta questão tenho que, por um lado, frisar que não leio assim tanto – pelo menos no meu conceito da coisa – e por outro lado voltar à infância.
Cresci rodeada de livros. Aprendi a ler com imensa facilidade, muito antes de entrar para a escola, e sempre li as minhas próprias histórias. Quando precisei de dar alguns saltos nas leituras tive uma mãe a segurar-me na mão e a dar-me força para avançar.
Em miúda, a minha loja favorita era a Bertrand da rua de Sto António em Faro de onde nunca, NUNCA, saí sem um ou dois livros.
Vivia numa aldeia onde tinha liberdade para sair à vontade… mas só depois das 18h e até à meia-noite … todas as outras horas eram passadas em casa, com ou sem amigos, em que tinha que inventar o que fazer. Os livros, os seus mundos, sempre foram o meu refúgio.
Nunca fui “rato de biblioteca” mas conhecia todas as bibliotecárias. Se não me encontrassem no campo de volley a grande probabilidade era que estivesse nos sofás da recepção da escola a ler um livro – e nunca um funcionário ou professor me expulsou de lá. Na faculdade, era aquela que tinha sempre um livro… e era natural que estivesse o estivesse a ler ao lado dos meus amigos que estavam a jogar cartas.
Ler tornou-se parte de mim. Tornou-se uma forma de estabilidade.
A questão não é, nunca foi e nunca será “como consegues ler tanto”. A questão é, sempre será “Como é que consigo aguentar lendo tão pouco?”
A verdade é que sendo adulta e tendo mais responsabilidades do que as gostaria de ter, tenho muito menos tempo para do que aquele que já tive. Por isso tive que encontrar formas de dar a volta à questão.
- Sou cada vez mais crítica com os livros que leio. Ler é fundamentalmente um prazer mas resisto a ler sempre o mesmo livro – e a verdade é que há escritores que parecem escrever sempre o mesmo livro.
- Aproveito todas as oportunidades para ler – tenho sempre um livro comigo (nem que seja um ebook no telemóvel) e leio nos tempos mortos. Leio à hora do almoço e às vezes ao pequeno almoço
- Desligo a televisão. Há noites lá em casa em que pomos música e cada um de nós se dedica a fazer o que lhe apetece – tanto podemos ficar horas a conversar ou a jogar um jogo de tabuleiro como ler ou simplesmente partilhar o silêncio.
Mas tenho que confessar. O meu segredo neste últimos meses têm sido os audiobooks. O tempo em que ando de carro sozinha é passado a ouvir ler ou a ouvir podcast sobre livros e literatura.
E acima de tudo, resisto a contabilizar leituras. Leio se e quando me apetece (e posso). Leio o que me apetece. Tento participar em grupos de leitura e outras tertúlias. Leio, não só livros mas também sobre livros.