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Ler por aí

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04
Jul23

Babel, or the Necessity of Violence (An Arcane History), de R.F Kuang

Patrícia

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A escritora deste livro tem 27 anos. Caramba. Enfim, avancemos.

Ficará desiludido quem lê este livro à espera de um worldbuilding fantástico, de um sistema de magia à lá Sanderson ou coisa que o valha, de um universo absolutamente novo. As diferenças para o "nosso" mundo são subtis. A magia neste livro não é mais que "lost in translation", o poder daquilo que se perde na tradução de duas palavras inscritas numa barra de prata. Para um leitor que, por definição, gosta tanto de ler e do poder da palavra este é um conceito fantástico. Apesar de haver muitas páginas dedicadas à linguagem, ao seu poder e à tradução, este não é um livro de linguística - mesmo que todas as notas de rodapé nos remetam para tal. Na verdade esta torrente de notas de rodapé faz-me lembrar o livro Jonathan Strange e Mr. Norrel,  uma vez que ambos pegam na História, na realidade histórica e a distorcem, brincam com ela, criam uma jogo de imagens e acabam por ser uma espécie de jogo de diferenças. Mas eu gostei bem mais do Jonathan Strange e Mr. Norrel.

Robin Swift é um órfão oriundo de Cantão, que veio para Inglaterra com um propósito muito específico: aprender o máximo de línguas possível de forma a ingressar em Babel, o instituto de tradução de Oxfort, na idade certa. A desenraizamento deste miúdo começa aqui. Num livro que fala do poder das palavras não é possível ignorar que a este menino é pedido que escolha um novo nome mais inglês. Quer o percebamos nessa altura ou mais à frente começa aqui a "questão de identidade" que perseguirá Robin ao longo de toda a vida. Já em Babel, seguimos o grupo de amigos de Robin: Ramy, nascido em Calcutá e educado em Inglaterra; Victoire, nascida no Haiti mas que cresceu em França; Letty, nada e criada em Inglaterra, uma verdadeira rosa inglesa. São, em Babel, o grupo dos outsiders. Curiosamente são, ao mesmo, tempo o maior trunfo de Babel. Aliás, Babel reflecte o mundo que R.F Kuang nos quer efectivamente mostrar. Destes meninos, trazidos sem escolha das colónias inglesas, espera-se subserviência, agradecimento e nada mais que uma atitude de gratidão por lhes ter sido dada a oportunidade de viver como ingleses. Bem, quase, porque se espera que passem a sua vida a devolver a Inglaterra o favor. Para sempre serão devedores dessa benevolência. 

Já perceberam certamente que as questões de identidade e do colonialismo são centrais neste livro. Bem, isso e a questão que o subtítulo levanta "há, ou não, uma real necessidade de violência?"

Já acabei de ler este livro há algum tempo e ainda não consigo ter uma opinião completamente formada. Não me apaixonei, confesso, apesar de achar que é um livro que tem bastantes virtudes, nomeadamente o não ser minimamente meigo para com o leitor e abordar temas interessantes sob perspectivas interessantes. Acho que o que falhou para mim foi a construção dos personagens. Num calhamaço pareceu-me demasiado pouco que a única personagem realmente desenvolvida seja Robin. Apesar dos interlúdios nunca conhecemos realmente Rami, Letti ou Victoire, apenas os conhecemos na sua relação com Robin. Os interlúdios que nos levam ao passado são apenas uma forma fácil de explicar algumas atitudes como se o presente ou passado recente não tivessem qualquer poder ou influencia.

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