09
Jan13
As paixões antigas 5 - Tema: droga
Patrícia
Desta vez não vos vou falar de um autor, nem sequer de uma série de livros. Vou falar-vos de dois livros que marcaram a minha adolescência e dos quais nunca me esquecerei. Se um dia tiver um filho farei questão que ele ou ela tenham, em devido tempo, acesso a estes dois livros.
Falo-vos de "Os filhos da droga" de Christianne F. e de "Viagem ao mundo da droga" De Charles Duchaussois.
O livro "Os filhos da droga" foi o primeiro contacto literário com este mundo. A espiral que levou Christianne, uma miúda com treze anos (sensivelmente a minha idade quando li este livro pela primeira vez) a mergulhar num mundo de droga, crime e prostituição impressionou-me e marcou-me. Comparar a minha vida, num Portugal Rural do início dos anos 90, com a vida de uma prostituta drogada em Berlim foi um abrir de olhos para a existência de algo que me fascinou e horrorizou. O que parecia interessante no início tornou-se um pesadelo. Olhar em volta e ver pessoas conhecidas a percorrerem o mesmo trilho foi o suficiente para me afastar desse caminho para sempre.
Mas o interesse sobre o tema manteve-se e assim que tive oportunidade deitei as unhas ao "Viagem ao mundo da droga" de Charles Duchaussois. Aquele livro foi, durante imenso tempo, um autêntico manual que me permitia saber (ou achar que sabia pelo menos) tudo sobre as drogas que havia no mercado. Lembro-me de haver no livro um capítulo apenas a explicar o que era cada droga ou seus efeitos e "prazeres". Mas para quem não conhece fiquem a saber que se trata do relato mais cru, directo e completo que já li sobre como se passa de tomar os drogazitas recreativas para se deixar de ser gente, perder a humanidade. Juntamente com a história do autor fazemos uma viagem pelos países que compõem um das rotas da droga e "conhecemos" a Turquia, o Afeganistão, a Indía e o Nepal. Culturalmente fazemos uma viagem tão interessante quando decadente e deprimente.
Acredito que a maioria das pessoas que leu este livro se lembre da história que mais me marcou: nas margens do Ganges um miúdo absolutamente saudável é amputado de um perna pelo próprio pai simplesmente porque essa era a forma de receber mais dinheiro nas esmolas. Não consigo, obviamente, compreender um acto destes mas ao longo da minha vida tenho várias vezes pensado neste episódio com repulsa e pena. A repulsa é óbvia. A pena divide-se entre o miúdo e o pai. Que raio de desespero levará alguém a um acto destes? A condenação é simples e fácil mas mudar a sociedade para impedir que coisas como estas aconteçam é mais difícil. Quero acreditar que hoje (o livro é dos anos 60, salvo erro) o mundo está diferente mas...
Qualquer um dos dois livros passa uma mensagem de esperança: são, afinal, retratos de sobreviventes. E ambos são uma leitura, se não prazeirosa, mas educativa.