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Ler por aí

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08
Out20

As Benevolentes, de Jonathan Littell

Patrícia

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Dizer que "gostei" deste livro parece-me sempre a despropósito. Dizer que é um livro "horrível", é uma injustiça. Ainda assim gostei deste livro e é um livro horrível.

Acho que nunca me tinha custado tanto ler um livro. A verdade é que foi uma leitura em andamento durante mais ou menos 10 meses, não por ser enorme (que o é) mas por apenas o conseguir ler em doses homeopáticas. É um livro duríssimo, aquele que menos protege o leitor em relação às atrocidades sobre o holocausto.

Um aparte para falar um pouco esta "moda" dos livros sobre o holocausto. Já toda a gente sabe que pôr Auschwitz no título de um livro vende. Mas convém que, pelo menos, que não se romantize a época mais negra da história da humanidade. Eu compreendo o fascínio que tanta gente tem sobre o holocausto e a segunda guerra. É fácil perceber porque tentamos, através da literatura, compreender como foi possível que o ser humano chegasse a tal desumanização. Mas não (me) é fácil compreender a quantidade de histórias (bonitas) para contar que não trazem nada de novo, que nem sequer respeitam o sofrimento, tornam-no banal, suportável, apenas um obstáculo chato mas transponível. Sim, é importante falar sobre o assunto, principalmente agora que o mundo em geral e o nosso país em particular vê crescer a extrema-direita e se assiste a uma tentativa de normalização do fascismo.

Em as Benevolentes, ouvimos a versão de Max, um oficial de topo no exército alemão e que está envolvido em quase todas as fases da guerra. É na sua voz (num tom nada arrependido e em total demissão de qualquer responsabilidade pessoal em tudo o que aconteceu, diga-se de passagem, uma vez que "apenas cumpre ordens") que ouvimos o relato do percurso feito até à total desumanização dos outros que permitiu o extermínio étnico de milhões de pessoas. O leitor não é poupado a nada, uma e outra vez e outra ainda.

Acompanhamos também a história pessoal de Max, a sua relação com a família, com a   sua própria sexualidade, com o passado.

Há quem condene este livro pela sua excessiva violência e por ser tão explícito em algumas cenas. É-o, sem dúvida. Violento e explícito. Mas isso é plenamente justificado. Não deve ser fácil ler sobre esta época. Deve ser difícil e horrível. Deve incomodar-nos, horrorizar-nos e deixar-nos certos que nunca podemos deixar que a história se repita. E isso este livro consegue. 

O título e o final deste livro remete-nos para a figura mitológica das Fúrias também conhecidas como As Benevolentes) e dá um toque literário interessante à forma do livro.

Nem sei a quem devo recomendar este livro. Mas é incontornável para quem está interessado neste período da história. 

 

 

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