ainda sobre o tamanho...
Depois de mais de um mês embrenhada na leitura do Anna Karénina, de Lev Tolstoi, despachei o A estranha Sally Diamond, de Liz Nugent em três dias.
Atrevo-me a dizer que o A estranha Sally Diamond não se vai tornar um clássico nem sobreviver ao teste do tempo (e está tudo bem) enquanto o Anna Karénina vai continuar a ser lido, estudado e esmiuçado durante muito tempo. Mas se ambos tivessem sido escritos hoje, talvez fosse tudo diferente. Teria um livro como o Anna K. hipótese de ser publicado? Um livro de mais de 700 páginas, lento, lento e com metade da páginas a ser um tratado sobre… agricultura? Atrevo-me a dizer que não ou que não sem um corte gigante. O tempo de hoje é rápido, corre mais rápido que o tempo de antes e as leituras querem-se rápidas, imediatas. Lembro-me de ouvir o Zink (acho que foi ele, se não foi as minhas desculpas) a dizer que não havia qualquer razão para se publicar um livro com mais de 200 páginas e lembro-me de ter ficado meio revoltada. Adoro calhamaços. Mas compreendo agora. E claro que há excepções – veja-se o Uma pequena vida ou tantos livros de fantasia e FC – mas são de nicho ou de sorte. A grande maioria das apostas editoriais de hoje são de livros pequenos, do que eu chamo falsos calhamaços – livros com muitas páginas (papel de gramagem alta, letras aceitáveis e margens maravilhosas) mas de leitura rápida. Os poucos novos calhamaços que andam por aí são livros de autores consagrados que sabem que o podem fazer e que, não importa o tamanho, a malta compra mesmo que não leia.