A vida acontece
Não há meio de conseguir manter uma publicação regular neste blog. Nem vos consigo dar outra razão que não "A vida acontece".
Há muitos anos resolvi separar o blog sobre livros de um outro, que fui mantendo, onde escrevia sobre temas mais mundanos, sobre mim e sobre a actualidade se fosse essa a minha preocupação do momento. Poucas pessoas sabiam que eu tinha um blog quanto mais dois. Aliás, poucas pessoas sabem que eu tenho um blog. Apesar de qualquer pessoa que me conheça o conseguir identificar como meu pela foto de capa (o meu gato é mais conhecido que sei lá o quê, coisa que não deixa de ser estranha uma vez que é o mais insociável ser que já pisou neste planeta) a verdade é que os anos têm passado e só os meus "amigos dos livros" e mais meia dúzia sabem que ele existe. E, por aqui, rapidamente aprendi a ser anónima, quis ter um sítio para partilhar leituras, registar opiniões e que fosse um caminho para livros que de outra forma não leria. Este semi-anonimato, que tem sido o meu registo nas redes sociais que tenho, acaba por ser um espartilho que me impede, tantas vezes, de me tornar real e completa nesta personagem virtual. Enfim, são escolhas e não me arrependo nem as vou mudar mas explicam um pouco porque venho tão poucas vezes aqui.
Nestas últimas semanas tenho lido mais jornais que livros. Os acontecimentos que merecem atenção e reflexão - e que têm o potencial para influenciar a nossa vida de hoje - têm-se sucedido a uma velocidade vertiginosa e, cada vez mais, é necessário fazer uma pausa, desligar todos os estímulos, para conseguir formar uma opinião ou, pelo menos, começar a ter uma ideias das repercussões, razões e consequências de cada acontecimento.
Vivemos tempos interessantes, seja lá como for, e por muita vontade que tenha de fugir para dentro de um livro e não sair de lá até que a nossa assembleia deixe ter 12 deputados de extrema-direita a verdade é que não o podemos fazer ou, daqui a uns tempos, vamos, por exemplo, voltar a ter livros proibidos.
Tenho a sensação que retrocedemos muito, muito tempo. Não sei se as mais de 400 mil pessoas que votaram na extrema-direita o fizeram por serem anti-sistema ou por acreditarem que, de facto, o mundo se divide em pessoas de bem e bandidos, mas inegavelmente fizeram-no por se sentirem representados por aquele discurso de tasca.
Não sei se foi a pandemia, se é da moda ou se simplesmente as pessoas se cansaram de esconder quem são, mas os últimos tempos trouxeram para a vista de todos o que de pior a humanidade tem. Sem medo e sem vergonha. O egoísmo substituiu a empatia de uma forma brutal e esmagadora. O ódio está a ganhar em toda a linha. O relógio do doomsday está a 100 segundos para meia-noite e nós estamos à beira de uma 3ª guerra mundial.