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Ler por aí

Ler por aí

30
Ago25

A importância de ler coisas diferentes,

Patrícia

Quando digo que faço a escolha consciente de ler livros escritos por mulheres esbarro quase sempre na incredulidade e na tão batida resposta do “ah, eu não ligo a género, só à qualidade/conteúdo

 

”. E eu percebo. Juro que sim. Mas confesso que quase me sinto ofendida por essa ser o contraponto à escolha de “ler mulheres”.

No fundo é a questão da meritocracia aplicada às leituras. É tudo muito bonito mas quando as oportunidades e os contextos são diferentes, a questão da meritocracia sempre me pareceu uma excelente desculpa para favorecer os mesmos de sempre. Mas vou focar-me na literatura, que é isso que aqui me traz aqui hoje.

Há uns anos apercebi-me que lia sobretudo escritores homens. E resolvi olhar para isso e pensar no que significava. Será que sou preconceituosa? Será que os homens escrevem melhor que as mulheres e é mesmo uma questão de qualidade? Será que a literatura feminina (odeio o conceito, já agora) não é para mim? Ou será mera coincidência?

E cheguei a uma conclusão muito simples: eu lia mais homens porque tinha mais acesso a livros de homens. Historicamente sempre foi mais fácil para os homens publicar que para as mulheres. Acredito que isso hoje esteja a mudar mas a percepção que tenho é que (ainda) há mais livros publicados por homens que por mulheres. Há mais prémios atribuídos a homens que a mulheres (e não, não acho que seja apenas uma questão de qualidade), há mais críticos literários (profissionais) homens que mulheres (e há estudos que dizem que eles lêem mais homens que mulheres).

Se pensarem em quem, na televisão, publicita/sugere livros vão perceber que são maioritariamente homens e que os livros são maioritariamente escritos por homens (estou a pensar no governo sombra, por exemplo, ou nos políticos que gostam muito de falar de livros que não leram – lá está o meu mau feitio a vir ao de cima).

Nessa altura decidi mudar a minha realidade – basicamente a única coisa que tenho a pretensão de controlar, sempre que me convenço que a matrix é apenas uma fantasia – e passar a escolher conscientemente livros escritos por mulheres.

E tem sido óptimo. Este ano estou nos 50/50 no que aos géneros masculino/feminino diz respeito e desconfio que a coisa vai pender para o lado das mulheres. Porque é uma escolha, a minha escolha. O meu grão de areia nesta questão da igualdade.

Sou feminista desde que me conheço como ser pensante. Passei por várias fases, incluindo as de achar que já não precisávamos dessa coisa de quotas ou lutas ou atenção especial (ah, a ignorância da juventude, coração no sítio certo mas tanto por saber ainda) e agora vou aprendendo todos os dias que há tanto para fazer no que concerne à igualdade. E que depende sempre de mim também.

E também aqui, na literatura, tenho caminho a percorrer. Acredito que a representatividade é uma questão de justiça. A Arte é também uma voz. E todos têm o direito e gostam de se sentir representados.

Para além de escolher ler mulheres, também faço outras escolhas. Cada vez mais. E isso tem-me enriquecido.

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