03
Jun10
A ilha debaixo do mar, de Isabel Allende
Patrícia
A Ilha debaixo do Mar
de Isabel Allende
Edição/reimpressão: 2009Páginas: 512
Editor: Caracter Editora
ISBN: 9789896810009
Para quem era uma escrava na Saint-Domingue dos finais do século XVIII, Zarité tinha tido uma boa estrela: aos nove anos foi vendida a Toulouse Valmorain, um rico fazendeiro, mas não conheceu nem o esgotamento das plantações de cana, nem a asfixia e o sofrimento dos moinhos, porque foi sempre uma escrava doméstica. A sua bondade natural, força de espírito e noção de honra permitiram-lhe partilhar os segredos e a espiritualidade que ajudavam os seus, os escravos, a sobreviver, e a conhecer as misérias dos amos, os brancos. Zarité converteu-se no centro de um microcosmos que era um reflexo do mundo da colónia: o amo Valmorain, a sua frágil esposa espanhola e o seu sensível filho Maurice, o sábio Parmentier, o militar Relais e a cortesã mulata Violette, Tante Rose, a curandeira, Gambo, o galante escravo rebelde… e outras personagens de uma cruel conflagração que acabaria por arrasar a sua terra e atirá-los para longe dela. Quando foi levada pelo seu amo para Nova Orleães, Zarité iniciou uma nova etapa onde alcançaria a sua maior aspiração: a liberdade. Para lá da dor e do amor, da submissão e da independência, dos seus desejos e os que lhe tinham imposto ao longo da sua vida, Zarité podia contemplá-la com serenidade e concluir que tinha tido uma boa estrela
Que sou fã da Isabel Allende não é novidade para ninguém. Por isso também não é surpreendente que considere este mais um livro a não perder.
Teté (Zarité) nasce escrava e teima em não morrer apesar de todos os esforços de sua mãe para que isso aconteça. Uma mulher escrava e mãe prefere não deixar que os seus filhos nasçam para uma vida de escravidão.
Isabel Allende é uma das poucas escritoras com a capacidade de nos contar uma história de escravidão, de sangue e lágrimas, uma história tristíssima com extrema doçura. Teté é um misto de força e bondade, de coragem e lealdade. Submissa e orgulhosa conta-nos uma história de sangue, suor e lágrimas que nos levam desde os campos da cana-de-açúcar no Haiti até Nova Orleães, da escravidão até à liberdade. O preço da liberdade é, para muitos, demasiado alto. Num mundo em que a cor da pele define o ser gente ou coisa, em que o pedaço de papel faz toda a diferença, onde nem todos têm alma e em que a crueldade é habitual a lealdade paga-se com traição.
Um livro a não perder cheio de personagens interessantes que enchem de cor e alegria uma história triste.