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Ler por aí

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25
Mai23

A história de Roma, de Joana Bértholo

Patrícia

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Desde que li o Ecologia, o nome da Joana Bértholo entrou de forma directa para a lista dos "escritores que quero ler". Fui lendo e ouvindo muitas opiniões, a maioria extremamente positiva, que referiam ser uma história sobre "o que podia ter sido". 

Após ter acabado de ler este livro, de que definitivamente gostei muito, precisei de algum tempo para "encaixar o que li" e conseguir verbalizar a minha opinião.

(se não leram o livro aconselho a que parem de ler aqui, pode haver alguns spoilers)

Sim, eu percebo porque é tantas vezes dito "é uma história sobre o que podia ser dito". Prefiro não a entender assim. E já o explico. 

Às páginas tantas percebemos que a nossa narradora, Joana, é "pouco confiável". Na verdade é tão pouco confiável quando qualquer pessoa na vida real. Ela conta-nos a forma como viveu, o que sente, a sua interpretação dos acontecimentos, a sua memória de certas conversas, a sua versão de alguns momentos. E também nos omite factos, seja de forma consciente ou inconsciente. Para mim, neste livro, isso faz dela uma pessoa bem mais real que muitas personagens uni-dimensionais que por hábito vamos encontrando nos livros e que nos convencemos que conhecemos. Independentemente de gostarmos ou não de Joana, de sentirmos ou não empatia com ela, com as suas escolhas e com as suas decisões, conhecemo-las e compreendemo-las ao longo destas páginas e das suas viagens. Apesar de, tal como Joana fazia com os amigos, só conhecermos o que ela nos quer contar e de, por vezes, duvidarmos da veracidade daquelas memórias/declarações. Literariamente, esta forma de contar uma história é bastante interessante e é aqui que para mim encaixa a frase "é uma história do que podia ter sido"...

A maternidade, o ser ou não "mãe", é um assunto central na vida de qualquer mulher, da sociedade. A pressão que existe e que valida/critica as escolhas que supostamente as mulheres têm o direito de fazer, é algo que qualquer mulher conhece e que tão bem está retratado aqui. Joana Bértholo não tem complacências e ao longo destas páginas vai-nos contando aquilo que já tão bem sabemos, que tantas de nós vivemos em cada dia. Este, que é um assunto maior, é tantas vezes menorizado na literatura e quase sempre apresentado da forma que reflecte a posição da sociedade: as mulheres são acima de tudo reprodutoras, "podem escolher mas..." e é este "mas" que contém toda a culpa do mundo.

Este livro é uma história do que podia ter sido, reformulo, este livro é uma história de quem podia ter sido. Confesso que esta parte me fez, à primeira leitura, ter uma reacção de "a sério? depois disto tudo, é esta a opção?" mas tenho que ser justa e perceber que Joana Bértholo faz aqui aquilo que a literatura faz de melhor: fazer-nos pensar, não ser meiga nem nos levar pela mão. A literatura não serve apenas para nos contar histórias bonitas, fáceis ou que digam exactamente aquilo que pensamos. Serve também para nos incomodar, espicaçar. 

Ecologia ainda é o meu livro preferido da Joana Bértholo mas gostei muito deste A história de Roma, que é o tipo de livro que fica comigo muito tempo, que vou descobrindo mesmo quando já o li há muito, de que me apetece falar e ir redescobrindo a cada conversa.

 

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