A casa quieta, de Rodrigo Guedes de Carvalho
Não é o meu livro favorito do autor, prova disso é o (tanto) tempo que o levei a ler. Mas, como os outros livros de RGC, é exigente (talvez até um pouco mais que os outros).
Sabemos (ou julgamos saber) logo no primeiro capítulo como é o final desta história: um homem, após a morte da sua mulher, entra numa casa vazia, demasiado vazia. Uma coisa é certa, RGC acaba-nos com a esperança em meia dúzia de linhas. Depois conta-nos o que levou àquele desfecho, os como e os porquês. E nunca, em ponto nenhum, nos devolve a esperança que nos roubou.
António e Salvador. Dois irmãos. Salvador, um arquitecto, casado com Mariana. António, advogado, casado com Eunice e pai de dois filhos. Vidas que, exactamente como o pai deles pretendia, são quase perfeitas. Mas, como na vida, o mundo que vive em cada um de nós tem o poder de nos absorver, remodelar ou destruir.
Não há muitos factos ao longo destas páginas. E nem todos são consequentes à primeira vista. Às vezes até parecem ali metidos apenas para chocar ou para dar a oportunidade ao escritor de nos transmitir uma ideia interessante (como quando uma cidade é destruída apenas pelas palavras). Mas depois há torrentes de emoção, há capítulos (como os de António) que nos conseguem atingir e deixar com um nó na garganta.
Um livro sobre a solidão, o medo, a loucura (ou sobre aquilo a que chamamos de loucura), a perda (não só de alguém mas de sonhos, de expectativas), escrito de uma forma dura, algo primitiva.