A aula de música
Vivi num palácio durante três anos. Qdo saía do carro da minha mãe e subia as escadarias do colégio já não reparava no quão maravilhoso aquilo era. As escadarias, a capela, o elevador que raramente funcionava, eram-me familiares ao ponto de nem achar estranho ir pelo túnel para as aulas quando chovia ou uma das minhas colegas ter leões em casa e nos ter trazido as crias para fazermos umas festinhas.
Mas às terças e às quintas acordava sempre com um nó na garganta que persistia e crescia até à hora de descer as escadas para a cave onde ficava a aula de música. Hoje consigo ver algum romantismo na coisa. O sítio onde os meus terrores, alguns pelo menos, se materializavam era uma cave onde uma bruxa velha (lamento, nunca consegui ver aquela professora de outra forma) me torturava com ditados musicais. Nunca consegui diferenciar um Dó de um Lá e nunca quis saber o que é uma colcheia. Aquelas aulas eram pura tortura. Quando acabavam corria escada acima sem nó na garganta e com uma leveza que não tinha uma hora antes.
Hoje senti-me assim outra vez. Em vez de aula de música tive outro género de conversa mas o sentimento de peso na ida e de leveza no regresso foi exactamente o mesmo mas acho que preferia ter feito um ditado musical.