Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ler por aí

Ler por aí

26
Dez24

O dia depois

Patrícia

Sempre adorei o dia 26 de dezembro. Até quando gostava do Natal preferia este dia. Por norma ainda estava na casa da minha avó e era um dia reservado às nobres artes da preguiça e da leitura. Ter sempre uma pilha de livros novos ajudava. É verdade que a tarde/noite de 25 já era passada a ler mas acordar e saber que ia ter a liberdade de me enroscar a um canto e ler sem que ninguém me chamasse era algo que já em pequena valorizava.

Hoje o Natal é apenas um tormento necessário. Eu adoro a minha família mas tudo o que saia da rotina é um pesadelo para os doentes de Alzheimer e para os seus cuidadores. Mesmo quando eles percebem que esta é, de alguma forma, uma época especial, a coisa é muito difícil. Mas a sociedade em geral e as famílias em particular não compreendem nem aceitam (por mais que digam o contrário) que não se comemore em grande e até tarde. Não compreendem que o entusiasmo de abrir presentes é menor que o cansaço e a dificuldade de abrir presentes e compreender que raio é aquilo e para que serve. É difícil perceber que em vez da alegria típica da época a única coisa que se consegue sentir é tristeza, pelo que foi e já não é, medo de perder o controlo da situação e vontade de mandar tudo e todos calarem a boca e desampararem a loja. É difícil explicar que as reuniões de família que noutro dia qualquer do ano nos deixam de coração cheio, nestes dias apenas nos pesam. Não apenas porque o cansaço é extremo (e em dezembro apenas se acumula)  mas porque na maioria do ano parecem não ser necessárias ou pelo menos não tão importantes. 

Mas o Natal também é isso, fazermos pelos outros aquilo que podemos e tantas vezes aguentar, fingir felicidade e fazer de palhaça é o melhor presente que podemos e conseguimos oferecer.

E por isso, o dia 26 de dezembro ser o dia mais longe que existe do próximo natal é a principal razão para nesta fase este seja um dos meus dias preferidos. Isso e porque, depois de muitas semanas, posso finalmente passar um dia quieta, sem sair de casa e até, quem sabe, ler uma ou duas horas. E sabe deus o quão preciso deste tempo e que os livros não se lêem sozinhos.

 

22
Dez24

Ainda não compraram todas as prendas de Natal? Corram..

Patrícia

... à livraria, claro. 

Não se esqueçam do talão de troca. Oferecer livros é oferecer amor. E cultura. E esperança. E tantas vezes um amigo.

Ofereci no outro dias um livro aos filhos de uns amigos que foi um sucesso. É mesmo para os pequeninos, 4/5 anos e é "amigo dos pais" já que é um livro de pintura... mas com água. Não conhecia e achei muito giro. Os miúdos também e isso é o mais importante (este é só um exemplo, eu comprei uns na Note e até eram mais giros que este).

pintar com águal.jpg 

E que tal dar a conhecer histórias de mulheres que mudaram o Mundo? Esta colecção é muito gira

histórias de adormecer.jpg 

As novelas gráficas são sempre um sucesso e é uma boa opção para os que dizem "não gostar muito de ler":

heart.jpgmaus.jpgpersepolis.jpg

Para quem gosta ler e reflectir, sugiro o livro de aforismos de José Tolentino Mendonça:

a vida em nós.jpg 

Para quem gosta de uma história maravilhosa que aqueça o coração, Isabela Figueiredo e o seu cão é uma boa opção:

um cão no meio do caminho.jpg 

E para quem quer entrar num universo mágico e maravilhoso? Claro, O caminho dos Reis:

o caminho dos reis.jpg 

Estes ou outros... Ofereçam livros.

Feliz Natal para todos

 

 

18
Dez24

A vegetariana, de Han Kang

Patrícia

A vegetariana.jpeg

Claro que o facto de Han Kang ter sido laureada com o prémio Nobel da literatura “for her intense poetic prose that confronts historical traumas and exposes the fragility of human life” teve um peso na escolha deste livro. Muito falado na Roda dos livros, não estava nem perto do topo das minhas escolhas, o que fez com que não tivesse grandes expectativas e consequentemente que não seja tão crítica quanto poderia ser.

Começo por dizer que li este livro de “fora”. A cultura sul-coreana é tão diferente da nossa que não consegui sentir verdadeira empatia com as personagens. Por outro lado, essa diferença é a parte mais interessante deste livro. É (também) para conhecer outras culturas que lemos livros.

Uma mulher, um dia e por causa de um sonho, decide deixar de comer carne (ou ovos, ou vestir couro, enfim, quase tudo o que tenha origem animal). E à sua volta todos fazem questão de lhe mostrar (e a nós) que assim ela está a rejeitar todos os princípios da sociedade (patriarcal) na qual se insere. Essa decisão que, diríamos, é algo pessoal que não deveria afectar os outros de forma substancial, é, no entanto, vista como um insulto, como um ataque.  Não é de incompreensão pela opção dela que falamos, é de incompreensão e rejeição da mera possibilidade de uma coisa, uma mulher, decidir algo fora da caixa, algo diferente. Bem, incompreensão em relação à mera possibilidade de uma mulher decidir.

Os homens deste livro são execráveis. Mas apesar de ser através dos olhos deles que vemos Yeong-hye, não são importantes nesta história, servem um propósito e é tudo.

Escolher é um escândalo, isso é bem patente neste livro. A escolha de Yeong-hye é a rejeição dos princípios, dos costumes de uma sociedade. A audácia de ser diferente leva-a (como tantas mulheres ao longo da história) ao hospício e a doença mental (como origem ou como consequência das decisões, depende a quem perguntarem) passa a ser uma questão, especialmente para a irmã, a outra mulher desta história, que se vê a si mesma reflectida no percurso da irmã, revelando também ela alguns traços de uma certa instabilidade mental. E foi aqui que este livro me perdeu.

Às páginas tantas, enquanto a In-hye reflecte no seu próprio percurso, nas suas decisões e em como nem o seu próprio corpo as mulheres têm a liberdade de tratar como quiserem, diz:

Se calhar, a determinada altura, Yeong-hye deixou simplesmente cair o ténue fio que a mantinha ligada à vida de todos os dias. Durante os últimos meses de insónia, In-hye sentia por vezes que estava a viver num estado de caos total. Se não fosse por Jin-woo – e pelo sentido de responsabilidade que tinha em relação a ele-, talvez também ela tivesse quebrado esse fio.”

Ora eu estou tão farta, mas tão farta desta associação do valor da mulher à maternidade que ver escarrapachada, neste livro, a ideia de que o que separa a sanidade da loucura é a maternidade me chocou e me transportou imediatamente à época em que as mulheres eram arbitrariamente internadas por “histeria”.

E voilá, uma frase, uma ideia, estragou-me um livro que, não sendo o género de história que mais me agrada, podia ter sido uma leitura interessante, se bem que estranha.

18
Dez24

...

Patrícia

Tenho andado longe desde que cá vim escrever sobre o Os rostos (já passou algum tempo mas é um livro que continua a marcar-me e a ser das leituras memoráveis do ano, mas disso falarei daqui a uns dias) mas a verdade é que as últimas semanas têm sido duras. Nem é que tenha acontecido muita coisa mas digamos que tenho andado à bulha comigo mesma e nem sempre ganho a batalha. Adiante, que já passámos de meio do mês, isto agora é só cerrar os dentes, esperar por dia 26 e conseguir finalmente relaxar um bocadinho.

Mas vou tentar deixar aqui alguns posts com sugestões de livros para oferecerem no Natal, afinal oferecer um livro é oferecer amor.

Não dou as leituras por terminadas este ano porque ainda vou ter uns dias de férias e sei que me vou desforrar. Afinal a minha pilha de livros por ler tem crescido bastante nos últimos tempos. Não sei bem como faço isto mas encontro sempre mais um livro que preciso mesmo ler.

Outra coisa que não sei bem como faço é dar por mim enredada em várias leituras ao mesmo tempo. Bem, não é verdade que não saiba. E apesar de não ser fã de ler vários livros em simultâneo, a verdade é que ao ler em vários formatos isso se torna inevitável,

Em formato físico ando a ler o Nós, de Eugene Zamiatin e isso significa que carrego o livro para todo o lado mas que leio especialmente à hora do almoço (e isto é quando tenho tempo, o que significa que a leitura se arrasta). Livraço, ainda para mais escrito há mais de 100 anos.

No sofá ou nas minhas noites de insónia é o formato digital que me acompanha, estou a ler o Mirafiori, de Manuel Jobois e honestamente está a ser uma desilusão. Não é que o livro seja mau mas não me está a encantar como eu esperava. Mas ainda há tempo, não li ainda muito.

O audiobook que me acompanha é um caso sério de amor. Comecei, obviamente, a ouvir o Wind and Truth, do Sanderson, no dia em que saiu e estou a fazer um esforço enorme para prolongar a leitura.  São 1300 páginas, o que dá cerca de 62h de leitura e eu não quero chegar ao fim deste arco dos Stormlight Archives. Por isso vou ouvindo apenas no carro, não me tenho permitido mais que isso. Mas garanto-vos que as horas nas filas são horas felizes.

E vocês? Que livros vos acompanham neste final do ano?

Pesquisar

email

ler.por.ai@sapo.pt

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

    1. 2025
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2023
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2010
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2009
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2007
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2006
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Mais sobre mim

Em destaque no SAPO Blogs
pub