Estação onze, de Emily St. John Mandel
A primeira coisa que tenho que dizer é que este é um livro escrito em 2014, bem antes da Pandemia de covid-19 que, de uma ou de outra forma, marcou a vida de todos os que estão a ler este post. Será certamente diferente lê-lo antes ou depois da época que mudou a forma como vemos o mundo (infelizmente não nos tornou pessoas melhores mas isso é outra história).
No início de Estação Onze percebemos logo que uma epidemia provocou o fim do mundo. Pelo menos o fim do mundo como o conhecemos. Em apenas alguns dias o mundo ficou reduzido a uma ínfima percentagens dos seus habitantes. Não houve tempo para adeus, para fugas, para despedidas. Mas antes disso havia um teatro onde estava em exibição King Lear, protagonizado por Arthur que morre em palco. Apesar de sair de cena no primeiro acto, é Arthur a peça central deste livro e vezes sem conta voltamos atrás e conhecemos as histórias, as histórias dos que o rodeiam e a forma como sobreviveram ou não ao fim do mundo. Kirsten é uma menina-actriz que faz de fantasma de uma das filhas do Rei Lear e cuja vida é marcada por Arthur, acima de tudo por acaso, porque as circunstâncias assim o ditam. Na mesma noite em que vê o seu amigo morrer em palco, regressa a casa para a ausência dos pais, apanhados pela gripe que em poucas horas devastou o mundo, e é o irmão que a ajuda a salvar-se. Vinte anos depois, Kirsten atingiu o sonho de ser actriz e é com Sinfonia Itinerante que vai percorrendo o mundo (que se cinge ao espaço que se consegue percorrer e pé) sob o mote de "sobreviver não é suficiente..."
Apesar de nos fazer um retrato bastante interessante do mundo pós apocalíptico (e já aprendemos que a realidade supera muitas vezes a ficção), estação Onze, como qualquer bom livro de ficção, trata de gente, de relação entre gentes, de amizade, de mudança, de crescimento. Como se vive com a culpa do sobrevivente? Em quem nos tornamos quando a necessidade de sobrevivência se impõe? Como funciona a sociedade sem regras, sem líderes, sem organização? Sem necessidade de muitas páginas (este é um livro surpreendentemente curto para o género), a escritora consegue abordar uma série de questões interessantes.
Não é um livro perfeito (para mim acaba por ser demasiado simples, queria saber mais, conhecer melhor aquelas pessoas, perceber o seu crescimento e não ser-lhes apenas apresentada no final) mas é um bom livro para passar umas horas.