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Ler por aí

Ler por aí

27
Jun24

O Pedro gosta do Afonso.

Patrícia

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Acredito que a forma mais fácil e eficaz de educar para empatia com o outro é através dos livros. Aliás, acredito que os livros são uma bela ferramenta para incutir em crianças e adultos valores fundamentais, para explicar conceitos como amizade, partilha, integração, diferença. Um livro infantil nunca é apenas um livro infantil. Uma fábula não é apenas uma estória, uma estória não são apenas palavras soltas. Nunca pensei que em 2024 estaria a escrever um texto assim e que estaria efectivamente preocupada com o presente e com o futuro. Nunca pensei ver a humanidade a regredir e a violência, o preconceito, a homofobia, o machismo e a xenofobia a ganhar terreno. Nunca pensei que valores que eu considerava dados como adquiridos e completamente incorporados na sociedade – pelo menos entre os mais jovens, os mais instruídos – fossem tão deturpados e maltratados como o estão a ser.

O Pedro gosta do Afonso.

Intimidar, assustar, magoar, exercer violência física ou psicológica sobre outro não pode nunca ser justificado através da liberdade de expressão ou como defesa de uma opinião. Criticar um livro não é o mesmo que intimidar a sua escritora.

Ter uma opinião negativa sobre um livro é normal, saudável e aceitável. A liberdade de expressão e de opinião não é, para mim, negociável e não se aplica apenas às minhas opiniões.

Intimidar, assustar, magoar, exercer violência física ou psicológica sobre alguém não se enquadra na “liberdade de expressão” seja lá por que lado olhemos para esta, por isso não podemos confundir as coisas. O que está a ser feito à Mariana Jones não é aceitável ou desculpável de forma nenhuma.

O Pedro gosta do Afonso.

A linha que separa a crítica da violência é tão clara que me enojam todos aqueles que dizem “o que lhe estão a fazer é errado mas…”

Não há “mas” nenhum. Não há nem no seu trabalho, nem na sua pessoa, nada que justifique isto ou que permita um “mas”. E eu não preciso de a conhecer nem a ela nem ao seu trabalho para o dizer. Não há NADA que justifique tentativas de intimidação, violência, ameaças. NADA. Nem a ela nem a ninguém.

O Pedro gosta do Afonso.

Critiquem o livro, não leiam o livro, falem mal do livro, tudo bem. Mas não pode ser normal que se intimide ou ameace a autora do livro.

 

O Pedro gosta do Afonso. E então? 

18
Jun24

Uma pequena vida, de Hanya Yanagihara (com spoilers)

Patrícia

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"Pornograficamente violento" foi das expressões que mais ouvi em relação a este livro, amado por tantos, odiado por outros.  Eu não o achei pornograficamente violento, aviso desde já. Talvez usasse a expressão pornograficamente real. Eu sei, eu sei que é tão mais simpático ler histórias de sucesso, de superação, quase nos convencemos que somos, que devemos ser, sempre capazes de ultrapassar, de transformar a violência em amor e que até na mais negra das situações, a luz do ser humano brilha. Quem me conhece sabe o quanto abomino este tipo de romantização do mal que considero apenas servir para que estejamos confortáveis na nossa inacção. A literatura serve para incomodar, para nos fazer sentir desconfortáveis, para nos tirar da zona de conforto.  E também para nos mostrar o quão feia é a humanidade. E só para acabar com a conversa do "isto é um exagero", deixo-vos um número: em 2022 o número de vítimas registadas de tráfico humano na UE foi de 10093 e a exploração sexual é a primeira das razões para o tráfico (na UE e registadas, imaginem no mundo e os números reais). E poderia estar aqui a falar de casos de violência doméstica até à eternidade.  E sim, neste tipo de casos há a tendência a tudo acontecer a uma mesma pessoa. over and over again. E sim, é mais fácil acreditar que tudo acaba bem quando estas pessoas são salvas e ficam livres dos agressores do que passar 700 páginas a olhar e a remoer nas consequências a longo prazo de algumas situações. Também é mais fácil acreditar que basta querer para se ultrapassar a tristeza e depressão que por vezes temos dentro de nós. (e neste caso até é fácil acreditar que há razões para isso, justificar essa tristeza torna-se fácil, podíamos e devíamos olhar para os casos em que não há uma razão aparente mas ainda assim essa negritude é real e mortal). 

Este livro não é perfeito. É-me difícil acreditar que todos os 4 amigos atingem o sucesso daquela forma, por exemplo. É-me difícil acreditar que ninguém desiste do Jude, é-me difícil acreditar que o Jude se consegue transformar naquela pessoa altruísta - eu sei que não conseguiria, etc, etc. Mas a escritora conseguiu levar-me a acreditar e a viver a angustia daquela pessoa. Eu já sabia que ia correr mal sempre que algo de bom acontecia. Consegui perceber o Jude de muitas formas. E todos os acontecimentos finais foram tão, mas tão previsíveis que talvez essa tenha sido a parte menos bem conseguida deste livro. 

Gostei muito. 

 

10
Jun24

números

Patrícia

Desta vez olho para os números das eleições de longe, numa análise sem o condicionalismo das opiniões dos outros, sem ter visto 1 dos muitos minutos de análise que imagino terem existido ontem e hoje nas nossas televisões. Talvez por isso me tenha apetecido registar a minha opinião (mais para memória futura que por outra coisa). Não sou boa analista política mas gosto de olhar para os números. E as Europeias, onde só vota quem vota sempre, são um bom barómetro para a coisa.

Livre -  Agora o L já sabe quando vale em números absolutos. Depois da brincadeira do Paupério, emendou a mão (e não invalidou a eleição do Paupério nas primárias) mas não engoliu o sapo, mostrando que não acredita efectivamente no método que já lhe deu dois dissabores extremamente públicos. Costuma dizer-se que à segunda oportunidade desperdiçada, "shame on you" e à terceira "Shame on me". Os votantes do L não vão dar terceira oportunidade ao partido do Rui Tavares. Pena ver um partido cortar assim as suas hipóteses de futuro mas só podem culpar-se a si mesmos.

BE - Outro partido cujos números mostram o que vale de forma sólida. As circunstâncias pontuais e o carisma individual podem fazê-lo crescer mas é esta a base. Sem grande história, aqui. 

PCP - Ainda não declaro o PCP moribundo porque é o PC, que tem base sólida como poucos partidos e ainda pode reinventar-se mas a eleição do João Oliveira tem mais a ver com ele que com o partido. Vejo o PC como uma pirâmide que se está a fundar. A base está lá mas apenas acima da linha d'água pouco ou nada já existe. 

PAN - Para um partido que se diz de pessoas, animais e natureza é impressionante como o PAN consegue não perceber nada do mundo rural. Enfim, qdo a Inês Sousa Real se cansar aquilo acaba.

CH - já sabemos quanto vale o voto de protesto e quanto vale o CH. O Ventura vai ter que decidir se vale a pena ir buscar os votos que perdeu para os chalupas, se consegue convencer os eleitores  que continua a ser um partido de protesto fora do sistema ou se quer tentar ser mais que isso. Para já perdeu a vantagem dos números.

IL - Vão convencer-se que estes números são reais mas se não tiverem pesos pesados nas próximas legislativas vão baixar e muito.

PD e AD - bem, acho que podemos dizer que ninguém vai querer eleições antecipadas. O PSD vai ter que mostrar o que vale no governo e o PS na oposição (e pode agradecer a vitória à confusão arranjada pelo Livre). E ambos vão ter que perceber como convencer alguém (especialmente os mais novos) a votar neles.  

 

09
Jun24

poemas por limosna

Patrícia

Tinha uma caixa com um livro a dizer "poemas por limosna". Nunca tinha ouvido a palavra limosna mas o significado era óbvio. Pedi-lhe um poema e ele pediu-me um tema. Livros, que outro tema poderia dar a um poeta de rua, que ali estava a partilhar e vender a sua arte? Pegou na máquina de escrever e, sem nunca largar o cigarro, escreveu sem quase parar para pensar. Já li e reli este poema várias vezes, guardá-lo-ei com carinho. 

Mais tarde voltei a passar naquela calle e lá continuava ele. Pedi-lhe uma foto e autorização para a publicar no blog. Acedeu e perguntou-me de onde sou e depois recitou Pessoa. 

É o meu primeiro dia na Colômbia mas já sei que este poema, este momento, vai ser a minha melhor recordação deste país. Guardem este nome: Edward Guillém

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