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Ler por aí

Ler por aí

23
Mai24

Mulher séria não tem ouvidos

Patrícia

Todas as meninas da minha geração (e de tantas outras gerações) o ouviram das mães. E eu percebo, juro que sim, porque sempre foi também uma questão de segurança. Mulher/menina séria não tem ouvidos, não ouve piropos, insultos, ou finge não ouvir, não dá resposta, sai rapidamente e vem para casa sem dar troco, sem se pôr a jeito a que os insultos e piropos passem de nível. Sempre foi nossa a responsabilidade e a culpa se algo, que começou em algo que ouvimos, escalasse e nos magoássemos por causa disso.

Mulher séria não tem ouvidos e cala, é superior ao insulto e ao mugido e só assim é uma mulher a sério e para ser levada a sério.

ignora

não provoques

se sabes que não é verdade para quê isso tudo?,

boys will be boys

se não te mostrares afectada, ele pára

vá, tu és mais forte que isto

não sejas tão sensível

Na verdade ele só diz isso porque gosta de ti, os rapazes são assim

mulher séria não tem ouvidos

Temos anos e anos de treino nisto de calar e comer, o melhor a que podíamos aspirar era a um "conforma-te" ou a aprendermos que "as mulheres sérias não têm ouvidos" após eles terem levado com um raspanete e escalarem os insultos "a culpa foi tua, sua puta, agora aguenta, queixinhas, vaca, menina da mamã, agora é que vais ver" porque aceitar a responsabilidades dos seus actos, das suas palavras, foi algo que eles nunca conseguiram aprender. 

Mulher séria não tem ouvidos mas tem joelhos. No meu caso aprendi desde cedo que um joelho no sítio certo e com a intensidade certa fazia maravilhas em relação aos ouvidos mas eu tive sorte, essa é que é a verdade, sorte e força. Mas conheci, conhecemos todas, esta postura de "mulher séria não tem ouvidos".

Ora eu quero que as mulheres e homens que me representam na assembleia da república tenham ouvidos. E boca para os denunciar. Quero esse exemplo para as meninas e meninos que hoje sofrem de bullying, que saibam que podem, que devem denunciar. O AV tem razão numa coisa: quando diz que representam os seus votantes. Esta postura é uma postura aceitável na sociedade. Sempre foi, espero que deixe de ser.

mulher séria tem ouvidos.

 

21
Mai24

Anonimato

Patrícia

Gosto da liberdade do anonimato. Afinal é mais fácil conversar com o barman que com os nossos conhecidos. Bem, se é mesmo assim não sei (mas vi em muitos filmes) porque nunca me pus à conversa com um barman, na verdade não vou a um bar há que tempos e até tenho saudades mas a vida acontece por estes lados e quase me desabituou de sair de casa, hoje em dia faço um esforço muito grande só para ir jantar fora, que dizer de ir a um bar. E, por isso é que só as (minhas) pessoas dos livros sabem da existência deste blog e por isso é que me fui tornando invisível nas redes sociais, de forma deliberada e consciente. Não é que a existência do Ler por aí seja um segredo mas não é algo que divulgue, que ponha no cv ou partilhe com a maioria das pessoas. Estas, se estiverem atentas, percebem. Mas raramente as pessoas estão atentas aos outros. Os textos que  vou escrevendo só divulgo no Bluesky e no Mastodon (um ou outro no Insta), redes onde se contam pelos dedos as pessoas que me conhecem pessoalmente. Gosto da liberdade do anonimado. Não significa isto que não escreva em nome próprio, que escrevo, ou que me esconda atrás de um avatar. Não o faço. Eu sou eu. O gato que está ali em cima é mesmo um dos meus gatos e é mais conhecido do que eu. Gosto da interacção que acontece por aqui mas isto não me define. Não sou influencer, nem criadora de conteúdos, nunca tive uma parceria, não faço divulgações nem tenho qualquer intenção de ser ou fazer qualquer uma destas coisas. E hiatos entre publicação de textos vão sempre acontecer. E há alturas em que leio os vossos blogs e comento, há alturas em que leio sem comentar e há alturas em não leio porque não me apetece. Falo sobre livros e sobre outras coisas se me apetecer, mas falo maioriamente sobre livros. Não gosto de falar sobre mim enquanto pessoas para além dos livros e tendo não escrever sobre o que não sei, e eu não sei imensa coisa logo escrevo sobre pouco. 

Anda gente nova por aqui, este texto é para vocês, não esperem muito.

19
Mai24

Melhor que...

Patrícia

Melhor que um livro que nos obriga à leitura rápida e à necessidade de lhe conhecer o fim é um livro que fazemos questão de ler lentamente, com tempo, em que chegar ao fim não é o objectivo mas uma inevitabilidade. Não acontece sempre. Está a acontecer-me com o Kafka à beira-mar.

Bom domingo

14
Mai24

Gatos

Patrícia

WhatsApp Image 2024-05-14 at 08.58.28_d51e829c.jpg

Juro, Black, esse livro não é sobre ti

Como não? A minha foto está na capa!

Não és tu, é apenas um gato preto

Não sabes, não podes ter a certeza disso.

Claro que tenho a certeza, esse livro já estava cá em casa antes de tu chegares e tu nem sequer conheces o Sr. Murakami. Além de que os teus olhos não são bem assim, são mais amarelados

Espera, tu reparaste nos meus olhos?

não

Como "não"? tu disseste que os meus olhos não são assim, é porque reparaste nos meus olhos

Não foi isso que eu quis dizer. Não ando cá a olhar para os teus olhos

Tens a certeza? é que disseste que os meus olhos não eram assim. Se não andas a olhar para os meus olhos, talvez seja mesmo eu na capa e talvez este livro seja mesmo sobre mim.

Pff, desisto... gatas!

"gatas", o que queres dizer com "gatas"? 

...

....

13
Mai24

Separar o trigo do joio

Patrícia

Há uns tempos saiu um livro escrito por um tipo de que não gosto nem um bocadinho. Decidi imediatamente não ler. O problema? O título é bom. Ok, resisti, não me consegui convencer a pegar naquilo, tenho alguma dificuldade em separar o trigo do joio que é como quem diz, "separar a obra da personalidade do escritor".

O problema é que todas as pessoas que lêem o dito livro (e em cuja opinião confio) só têm elogios. E nem sequer são o tipo de elogios que me faz fugir de uma leitura (não é nenhum best-seller que toda a gente adora). São o tipo de elogios que me fazem acreditar que é livro para mim "bom, duro, realista".

Quero mas não quero, não gosto do tipo, conseguirei separar a obra da pessoa ou o que julgo da pessoa vai estragar-me a leitura? 

 

12
Mai24

Em áudio

Patrícia

Desde que comecei a ouvir audiobooks a minha lista de podcast teve que sofrer um corte desgraçado. O tempo não estica e ou oiço livros ou podcasts, não consigo fazer as duas coisas porque o tempo reservado para os áudio é o passado no carro, de e para o trabalho ou a caminho de outros afazeres. Uso os podcast para alimentar esta minha paixão pelos livros e para me manter actualizada (pelo menos em relação às polémicas da semana).

No que aos livros diz respeito o Vale a Pena da Mariana Alvim é sempre uma boa opção. O episódio desta semana com a Alice Neto Sousa foi bastante interessante e ainda teve o bónus de acabar com um poema declamado pela convidada. O Só se estraga uma estante da Ana Grifo e do Tomé Ribeiro Gomes foi uma das minhas últimas descobertas e só há pouco me pus em dia com os episódios. É sempre giro ouvir recomendações tão diferentes daquilo que eu costumo ler.

A Diana e o seu Papéis e Letras não anda a lançar episódios novos há uns tempos mas já sei que é um sítio seguro para ouvir opiniões de livros que são a minha cara. E também é essa a razão para ir ouvindo o Legendarium, o único podcast em inglês que me dou ao trabalho de seguir, porque sei que lá encontrarei uma boa discussão sobre todo e qualquer livro de fantasia ou FC que me apeteça ler. E porque não há alternativa (que eu saiba) por cá.

Já segui muitos outros podcasts de livros mas neste momento não há mais nenhum que me vá interessando ou esteja activo.

Para acompanhar a actualidade, os casos da semana, tento ouvir pelo menos um destes podcast. Nem sempre tenho pachorra para ouvir todos até porque os temas discutidos são, geralmente, os mesmos: 

Fora do Baralho 

Lei da Paridade

Expresso da Meia-noite

Governo Sombra

O último apaga a luz

Esta semana começou o A agenda de Ricardo Salgado, um podcast saído da investigação jornalística de Pedro Coelho que me parece bastante interessante.

Nas viagens pequenas e para me rir um bocadinho (ou simplesmente para me relembrar que tipo de pessoas há por aí) vou ouvindo o Extremamente desagradável, que não precisa de apresentações.

E para as viagens longas ou para os dias em que me apetece ouvir boas conversas, sem pressa e com gente interessante, há sempre o A beleza das primeiras coisas, com o Bernardo Mendonça.

Deixem-me as vossas sugestões de podcasts imperdíveis.

 

 

09
Mai24

O melhor dos livros...

Patrícia

Ainda pensei em começar este texto com um "o melhor dos livros são as pessoas" mas assim que o pensei ri-me de mim mesma porque seria uma mentira descarada. Nem o melhor dos livros são as pessoas nem as pessoas são o melhor do que quer que seja. Mas as pessoas dos livros são (d)as melhores pessoas.

O melhor dos livros são os próprios livros, a história, as sensações e as emoções que provocam. E, como estou numa de falar sobre o assunto, aviso já que o cheiro dos livros não é assim tão bom. Se for de livro velho, causa alergia. Se for de livro novo é, muitas vezes, mauzinho. Eu adoro livros mas não os idolatro enquanto objectos e muito menos gosto de lhes limpar o pó. Talvez por isso me tenha adaptado tão bem ao formato digital.

Mas estou a perder-me, o tema hoje são as pessoas. As dos livros, claro. As melhores de todas.  Mas talvez este texto não seja sobre as pessoas dos livros mas sim sobre a forma como os livros nos aproximam de outras pessoas, como esbatem a importância de outras características. 

Quando alguém gosta de ler é fácil estabelecer uma relação. Fi-lo com uma senhora idosa que anda sempre com um livro na mão e que floresce quando lhe pergunto se está a gostar e do que trata o livro. Conta-me sempre a história de como sempre gostou de ler e como escondia os livros (da mãe) para poder ler em cada momento livre. Fi-lo com um senhor mais velho, num evento de família alargado, que se sentia meio fora de pé e com quem passou a ser fácil falar. Os livros são uma âncora à vida e aos outros. 

Ontem fiquei feliz quando me disseram que tinham lido e adorado um livro por minha recomendação. Sinto sempre uma enorme responsabilidade quando percebo que alguém, de facto, ouviu aquilo que eu disse e optou por gastar parte do seu tempo a ler algo porque eu o recomendei. 

(uma pausa para vos dizer que está a ser muito difícil escrever este post com uma gata em cima do ombro, a pedinchar atenção e festinhas e ronronar como se eu fosse a melhor coisa que lhe aconteceu hoje. Amor de gato é qualquer coisa de fantástico)

E quando duas ou mais pessoas dos livros se juntam é uma maravilha, saltamos de livro para livro, falamos de personagens como se de pessoas reais se tratassem e compreendemos quando alguém se revolta ou sofre com algo que só aconteceu na página de um livro. Compreendemos a importância que aquelas pessoas personagens têm na nossa vida, o quanto nos moldam, nos influenciam e nos fazem felizes. E às tantas estamos no meio de uma multidão mesmo que fisicamente sejamos apenas 2.

04
Mai24

escolhas, escolhas

Patrícia

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Quem nunca comprou um livro que queria mesmo muito ler e acabou por o deixar na estante, não lido, meio abandonado, que atire a primeira pedra. Eu sou perita em tal. É certo que não compro assim tantos livros mas acontece com alguma regularidade comprar um porque o quero mesmo ler e depois acabo por ir adiando essa leitura e lá fica o desgraçado, triste e abandonado, na estante. Cada vez que o olho penso "quero mesmo ler-te, assim que acabar este é a tua vez" mas depois não me apetece, não é a altura certa, agora não. Foi isso que, ao longo dos anos, aconteceu a este Kafka à beira mar. Devo tê-lo comprado pouco depois de ter lido (e adorado) o 1Q84 e ter decidido que queria ler todos os Murakami mas os anos passaram e este desgraçado ficou na estante. Até agora. 

Eu não sei como escolhem o próximo livro a ler (já agora, como é?) mas eu só o faço verdadeiramente no momento em que vou começar a lê-lo. Até essa altura a probabilidade de mudar de ideias é grande. E, na maioria das vezes, escolho por impulso. Ultimamente ando a ler muitos livros recentes, novidades que me vêm parar às mãos e que têm sido logo lidos (acho que pela primeira vez em pouco mais de 2 meses li os 4 livros que me ofereceram no aniversário) e isso já me começava a bulir com os nervos. Não sou pessoa de fomo e por norma até fujo das novidades e dos best-sellers. Se "toda a gente anda ler" não me interessa, pelo menos para já. E assim, quando chegou a altura de escolher o que ia começar a ler, vi-me perante dois títulos que "quero mesmo muito ler", Kafka à beira mar e o As luzes de Leonor. Desta vez o gato ganhou e assim vou passar os próximos tempos no universo estranho de Murakami. 

Ia escrever que a As luzes de Leonor será um dos próximos mas é melhor não fazer promessas destas ou corro o risco de deixar esse livro que quero mesmo ler na estante mais uns anos.

O sol brilha lá fora (já sei que Lisboa está com ar de chuva mas eu hoje não estou em Lisboa), tenho o mar por perto, estou de "fim de semana do dia da mãe" e mimá-la vai ser a minha prioridade mas terei provavelmente uns momentos para ler.

Para vocês, boas leituras e bom fim de semana, sejam felizes.

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