A pergunta certa
Lembro-me de lá em casa se dizer que comprar livros era um investimento, que se fosse um vício, era um vício dos bons. Confesso que tenho muitos livros em casa que provavelmente não lerei ou não voltarei a ler. Também admito que dificilmente deixarei de comprar livros. E que comprar mais livros não é inversamente proporcional aos livros que tenho por ler. E não me sinto minimamente culpada. Não devo nada a ninguém e gasto o meu dinheiro onde quero.
Mas não deixo de pensar onde está a linha entre ser ou não um problema. Acumular livros que sabemos não ir ler (por muito que vivamos, sejamos sinceros, boa parte dos títulos já não nos interessam) mas que ainda assim preferimos manter por perto. Na verdade, sempre assumi que o meu sonho de consumo era ter uma biblioteca com escadinhas (não me chateiem, gosto de escadinhas nas estantes - provavelmente se alguma vez conseguir cumprir esse sonho, será a minha morte, ainda saio no correio da manhã como "viciada em livros morre ao cair da escada das estantes na biblioteca privada") pelo que faz algum sentido ter e comprar livros, as estantes não se enchem sozinhas e eu não tenho bibelots suficientes para encher meia prateleira quando mais uma estante.
Na verdade não compro muitos livros. Hoje em dia compro livros que quero ter para consultar ou compro livros que quero ter na estante. Volta e meia lá vou comprar um livro que não conheço só porque ir a uma livraria ainda é a minha definição preferida de "ir às compras". Compro ebooks que quero começar logo a ler ou audiobooks que quero começar a ouvir.
Mas continuo a questionar-me. Não há, por definição, vícios bons. Há os que nos matam e os que não nos matam. Há os que nos levam à falência e os que não nos levam à falência. Basicamente acho que podemos admitir que, se os livros forem um vício, serão um vício que não nos matará (a não ser que consideremos a queda das escadinhas da estante como um perigo real, eu só considero essa morte como uma das que não me assusta e até me faz sorrir - não me interessa viver quando não conseguir ler) nem nos levará à falência, pelo que a coisa não será problemática de todo.
Resta uma pergunta: quantos dos livros comprados são efectivamente lidos?
Essa, meus queridos, é a pergunta a fazer. Compramos mais livros... mas lemos mais livros?