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Ler por aí

Ler por aí

26
Fev23

em jeito de partilha...

Patrícia

Há um vazio estranho neste blog que, durante anos, viveu da minha opinião dos livros que eu ia lendo. Não foi apenas a falta de vontade de estruturar uma opinião, foi o perceber que já não me apetecia escrever sem o fazer. Comecei a achar vazio o exercício de escrever sobre um livro que acabei de ler sem spoilers. Não tendo qualquer vontade de vender livros, sem laços que me atem a uma qualquer obrigação (bem haja a minha teimosia de nunca ter querido nem procurado qualquer género de parceria com editoras ou escritores - que me desculpem o silêncio os que me querem enviar livros), deixei de me preocupar com a partilha do que ando a ler, voltei ao caderninho como registo e quando me apetece escrevo uma ou duas frases mais genéricas, partilho nas redes sociais uma ou outra foto e não faço mais que isso. Às vezes apetece-me discutir um ou outro aspecto de um livro - ou um tema que me desperta a atenção - mas sei que a maioria das pessoas procura os blogs antes da leitura de um livro e não depois, pelo que me censuro e opto por não o fazer em forma de post. Por outro lado apetece-me falar de outras coisas e é isso que acabo por fazer. No meu jeito tortuoso raramente escrevo directamente sobre o que me consome na altura mas já partilhei mais sobre mim nos últimos meses que em anos de blog (lembro-me de uma vez me terem pedido para participar numa tag qualquer e se terem queixado que não conseguiam descobrir nada sobre mim "extra livros" através do blog - fiquei contente porque sempre foi esse o meu objectivo). 

Mas continuo a ler. Aliás, acho que ultimamente até tenho lido mais. Li o Histórias Bizarras da Olga Tokarczuk, um livro de contos que adorei e que merecia ser discutido e dissecado conto a conto. Li o Cidade da lua Crescente da Sarah J. Maas que me foi oferecido por quem sabe que eu adoro fantasia e que, apesar de nunca ter lido um livro deste género na vida, faz questão de me oferecer fantasia - e isso é uma prova de amor. Li o A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery de que não fiquei fã. Ando a ler o Pátria, do Fernando Arambuco, que é um livro do caraças e do qual provavelmente me vão ouvir falar muitas vezes porque é impossível que não entre directamente para a lista dos "livros da vida". Depois de uns tempos a pôr em dia os podcasts de que gosto (e que têm o dom de aumentar a lista de livros que quero ler) regressei aos audiobooks com o maravilhoso, incontornável, imperdível Born a Crime, do Trevor Noah. E digo-vos que ouvir este livro é a forma certa de o ler. Maravilhoso, divertido, sensível, tristíssimo, capaz de nos tirar e depois devolver a fé na humanidade. 

19
Fev23

Para que servem os livros?

Patrícia

Obviamente para enfeitar a casa. Sim, sou dessas. Uma boa estante cheia de livros é algo que tem mesmo que constar da decoração da casa. Há livros lindos que merecem destaque e devem mesmo ser ostensivamente mostrados. 

Mas a verdadeira função dos livros é ajudar-nos a fugir. Podem imaginar um livro como a derradeira agência de viagem que nos ajuda a chegar a uma praia paradisíaca por tuta e meia ou como quem pega na pá para escavar o buraco que leva à liberdade. Acho que a escolha vai depender se apenas precisam de umas férias ou de fugir a sério da vossa vida.

Eu, que me sinto em IF todos os dias, tenho nos livros o meu Abade Faria. E se não percebem a referência, shame on you, é apenas de um dos melhores livros alguma vez escritos.

Talvez goste tanto de ler porque consigo, sempre consegui, deixar-me transportar para dentro das histórias. E talvez por isso goste tanto de fantasia e de uma história bem contada. Se é para fugir, que seja para um sítio que vale a pena, que viva vidas extraordinárias, que me torne amiga de seres fantásticos e que acredite no inacreditável.

Toda a gente pode não gostar de fantasia. Mas nunca compreenderei quem não gosta de fantasia porque os livros deste género estão pejados de seres que não existem. Há lá coisa melhor que ultrapassar os limites da imaginação e mergulhar na magia? Qual é o gozo de ler um livro que não nos transporta para outra realidade, outra vida? Toda a ficção faz isso, este género apenas dá uma roupagem diferente à realidade (porque todos os bons livros do fantástico ou da FC, tal como de qualquer outro género, reflectem e tratam sobretudo da realidade, dos problemas e questões do que nos rodeia).

Esta função de desencarcerador dos livros já me salvou, se não a vida, a saúde mental várias vezes. Fê-lo ao longo de toda a minha infância e adolescência, fá-lo hoje, a cada dia. Devo o meu equilibrio aos livros mais do que a qualquer pessoa. São e serão sempre a minha âncora. 

01
Fev23

ler mulheres, eis a questão

Patrícia

Ando a pensar neste post há alguns dias, já tive algumas coisas escritas mas acabei por apagá-las porque já sei que vai ser polémico. Ou melhor, que seria polémico em qualquer outra plataforma que não esta. Os blogs são, neste momento, a rede social mais pacífica e educada que existe. E talvez seja essa (falta de) exposição que cada mais me agrada.

Um amigo meu diz sempre, só para me irritar, que "não lê mulheres". Na verdade, esta frase é uma velha piada nossa porque ele já sabe que "afino" sempre e lhe sugiro uma resma de livros, escritos por mulheres, que, invariavelmente, ele não vai ler. Estou a ser injusta, consegui pô-lo a ler Chimamanda (esta vale por muitas, certo?). Outra vez, num encontro com um escritor, perguntei-lhe (depois de ele responder apenas com nomes de escritores homens à pergunta "que autores sugere?") "e autoras mulheres, quem sugere?" e a resposta foi uma qualquer variação de "não leio mulheres". A este fiz um risquinho mental e decidi nunca mais ler um livro dele (sim, tenho ódiozinhos de estimação). Agora ando a ouvir o podcast "Vale a pena" da Mariana Alvim e, talvez por estar a ouvir vários episódios de uma assentada, é impossível não perceber que o homens que lá vão raramente sugerem livros de autoras mulheres. 

Calma, não são todos, nem sempre, mas é claramente uma tendência. E na verdade nem acho que seja consciente. Não acho que os homens leiam maioritariamente livros de homens por não quererem livros de mulheres. Mas acho que as mulheres são muito menos preconceituosas nas leituras. 

Acho que nesta altura devo reforçar que odeio, abomino, a terminologia "literatura feminina". Pode haver (e há) literatura "feminista" mas este conceito de "literatura feminina" é associado, por mulheres e homens, a literatura de menor qualidade e até é considerada (geralmente por mulheres) como um "guilty plesure", algo que se aprecia com uma certa vergonha por, lá está, ser de baixa qualidade literária. Eu, por mim, acho que há bons e maus livros mas que associar algum tipo de livro a um género é só parvo. 

O que eu vejo, no meu grupo de amigos "dos livros", é que cada vez mais, mulheres e homens, fazem um esforço consciente para ler mais mulheres porque se aperceberam de um desequilíbrio nos géneros dos autores dos livros que liam. Esse esforço consciente rapidamente se tornou norma e, no meu caso, deu-me a conhecer todo um mundo de novas autoras que me ajudam a construir enquanto leitora e pessoa. 

E sim, "um bom livro é um bom livro quer seja escrito por um homem ou por uma mulher" mas quem usa este argumento para evitar olhar para as desigualdades da sociedade em geral e do panorama literário em particular, precisa parar e começar a olhar à volta. 

(e eu até já sei quem me vai deixar aqui um comentário só para me tentar irritar um bocadinho. provavelmente vais conseguir mas eu gosto de ti à mesma)

 

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