A prescrição médica foi de dieta visual. Sim, isso existe e todos a devíamos praticar. Nós fazemo-lo por ordem médica e, por isso, depois das notícias da noite, desligamos a televisão.
A primeira coisa que notei foi que ganhámos tempo. As luzes fazem barulho, sempre ouvi dizer. E o barulho consome tempo. É impressionante o tempo que o barulho consome. Dizia eu, ganhámos tempo. Ganhámos tempo para ler, para ouvir música (música não é barulho, não consome tempo, embala-o), para conversar (conversar não é barulho, especialmente quando envolve gargalhadas, consome muito tempo, mas em bom) e para outras coisas. O problema da conversa e da música é que é inverno e todos sabemos o quão as estações do ano interferem nas conversas, não só nas de elevador, mas também nas que temos com os nossos mais que tudo, no sofá, à noite porque há mantas e as mantas dão sono. Se fosse verão, podíamos ir para a rua passear (agora também podemos, mas não somos parvos), para a varanda, de luzes desligadas a ver as estrelas (agora também podemos, mas com as nuvens raramente se vê estrelas e, de novo, não somos parvos) e a verdade é que 10 minutos depois de estarmos à conversa no sofá “alguém” diz, “e se fossemos para a cama? É que estás com ar de quem vai adormecer nos próximos 5 minutos”. Em minha defesa, admito andar muito cansada e fico cheia de sono assim que páro e me enrosco. Isto não seria problemático se depois não acordasse às 3 ou 4h da manhã e não tornasse tudo pior ainda. Enfim, tudo isto para dizer que precisámos arranjar o que fazer naquele tempo que nos caiu no colo e quando não nos apetece ler, conversar, dormir ou arrumar gavetas (nunca aconteceu mas ainda tenho esperança).
A resposta foi óbvia, claro: jogos de tabuleiro.
Sempre gostámos mas era mais uma coisa de quando estávamos com os miúdos da família (contam como miúdos quando já estão nos vintes e muitos?) mas agora tornou-se um vício e que dá muitas gargalhadas. O nosso preferido é o Scrabble mas vamos adicionando jogos novos (ando, com esta idade, a considerar começar a jogar o descobridores de catan, só para terem uma ideia). Mas dizia eu, o preferido é o Scrabble, sem palavras inventadas (às vezes parecem, mas depois mostramos o dicionário oficial cá de casa e afinal existem). Impressionante o quão um jogo de palavras pode trazer à superfície o mau perder que existe em cada um de nós. E o quanto nos rimos com as parvoíces que vamos dizendo. E as palavras que aprendemos.
Mas resumindo, é muito bom o tempo que não passamos em frente àquela caixa mágica sugadora de tempo.