Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ler por aí

Ler por aí

30
Nov22

Diário de leitura #5 ou "quando me dá para o engonhanço"

Patrícia

Sim, o priberam diz que a palavra engonhanço não só existe como se aplica precisamente à minha leitura actual que progride muito lentamente.

Ando a ler o maravilhoso "misericórdia" da Lídia Jorge e confesso, ando a engonhar. O livro é belíssimo, uma extraordinária homenagem à sua Mãe e, digo eu, a todas as pessoas que estão no fim da sua vida e que, por várias razões vivem em Lares. É, como disse um belo livro, mas é também um livro que magoa e que me custa ler, que me deixa o coração apertado mesmo quando tenho vontade de sorrir com as aventuras e desventuras daquela maltinha.

O resultado desta leitura arrastada é que dou por mim com vontade de ler outras coisas mas esbarro na minha mania de ler apenas um livro de cada vez. Nada contra quem consegue ler várias coisas ao mesmo tempo mas o meu limite é ter um livro (físico ou ebook) e um audiobook em andamento. Mais que isso já me parece demais. 

Enfim, dramas de leitores.

Num outro registo, ando com vontade de fazer um género de um calendário do advento de sugestões livrescas como já fiz no passado. Mas isso implica começar amanhã.  O que vos parece?

 

25
Nov22

Gente Séria, de Hugo Mezena

Patrícia

gente-seria.jpeg

Miguel, o narrador deste livro tem a minha idade. Miguel viveu numa aldeia a sua infância, exactamente como eu. Miguel cresceu numa família católica exactamente como eu.

Bem, não exactamente, porque confesso não me ter sentido assim tão representada nas páginas deste livro mas talvez isso seja apenas demonstrativo da minha sorte. 

Sendo de uma aldeia e vivendo há vários anos na zona da grande Lisboa, sou frequentemente confrontada com a ideia que muita gente tem do interior, do isolamento total, da falta de informação, da "saloiice" no pior que a palavra tem e confesso que me irrito quase sempre, não gosto de estereótipos nem de certezas fechadas. E este livro está cheiinho deles. Desde a beata que prega mas na hora da verdade diz "Deus me perdoe mas não" até à professora que faz o bom aluno ir buscar-lhe o lanche e ainda lhe aquece as orelhas se se atrasar.

Se este "gente séria" vos passou pela mão, se leram alguma coisa sobre ele, será inevitável conhecerem de antemão a hilariante lista de pecados deste gaiato que nos conta a história. Miguel resolve escrever todos os dias os pecados, os seus e dos outros, numa contabilidade cristã que encaixa perfeitamente no desenho da igreja católica que o autor nos apresenta e que é fundamental neste livro. 

Mas o que parece, de início, apenas um retratado datado e divertido de uma aldeia perdida nos anos 80, torna-se algo mais escuro e sério a cada passo. E ainda bem, porque acabo esta espécie de opinião com a certeza que este é um livro que perde com a leitura individual e que se presta a uma enorme discussão. Uma discussão que é cada vez mais necessária na nossa sociedade, uma discussão que faça tremer tradições e algumas "certezas" que nos estão entranhadas enquanto sociedade.

 

 

 

 

08
Nov22

isto não é o que parece

Patrícia

Vou começar logo pelo disclamer: isto não é um post "no meu tempo é que era bom".

Mas...

Ando a ouvir o podcast Verdes Anos, em que o Ricardo Duarte tenta perceber como alguém se torna escritor. É inevitável começar com a parte em que cada um deles se tornou leitor e há, nesta parte, um denominador comum que é a disponibilidade de livros. Para além da disponibilidade de livros há a disponibilidade de cada um para se tornar leitor, que é outra forma de dizer que houve uma altura da vida em que não havia nada mais interessante para fazer que ler. 

Muitas vezes não queremos admitir mas não há nada como o aborrecimento para nos fazer leitores, para nos fazer descobrir o prazer que é viajar através de um livro. E é sobre isso que, hoje, quero reflectir.

Obviamente é importante ter exemplos, ver os pais, avós, amigos a ler. É importante ter livros em casa. É importante ter livros adequados à idade dos miúdos mas nada como uma tarde de aborrecimento e não ter nada para ler para dar a um miúdo a vontade, a urgência, de descobrir coisas novas.

Eu li imensa coisa que não era para a minha idade. Li livros que não percebi e que só mais tarde fizeram sentido. Aborreci-me muito, nas longas tardes de verão, nas longas noites de inverno. E encontrei muitos livros e escritores nestes períodos de puro ócio, em que precisava arranjar qualquer coisa para passar o tempo. 

Fiz-me leitora ao mesmo tempo que a minha mãe fazia o jantar. Juro, verdade. Ela não tinha grande tempo para me ler e eu queria mais mas os livros sem bonecos assustavam-me. Então ela punha-me a ler em voz alta, um capitulo por dia, enquanto ela fazia o jantar. Claro que isto durou uns 3 dias porque me cansei de esperar pelo tempo dela e queria saber o fim da história, foi-se o medo, veio a fome de livros. Fiz-me leitora a reler livros. Fiz-me leitora a procurar nas estantes lá de casa e da casa dos primos, livros que me interessassem. Fiz-me leitora ao passar tardes de verão, no vão da janela, a ler livros sem ordem, sem tino, só porque sim. Não me lembro de nenhuma proibição, apenas de uns pouco convincentes "isso não é para a tua idade" que me fazia imediatamente ler aquele livro.

Nunca deixei de ir para a galdeirice para ler... mas primeiro acabava de ler o livro e só depois rumava à rua e às brincadeiras - e isso era uma escolha minha. Nunca me disseram "lês demais", só "lês depressa demais, não deves perceber nada assim" (o que me fazia debitar resumos de livros e permitia que conversassemos sobre o assunto) ou "não lês suficientes autores portugueses" (coisa que só muito mais tarde admiti ser verdade).

Acho que só tempo dirá o que faz mais e melhor leitores e escritores, se a necessidade de procurar e descobrir, se a disponibilidade de livros e informação. Uma coisa que não muda com o tempo é que o exemplo é fundamental. Ver adultos a ler é importante.

03
Nov22

Diário de leitura #4 ou "raisparta não tenho tempo para ler"

Patrícia

É verdade. Estas duas últimas semana foram uma desgraça em termos de leituras, podia dizer apenas que não tenho tido tido tempo mas isso nunca é bem verdade, pois não? O tempo está lá, temos é prioridades diferentes. E confesso, esta semana tive prioridades diferentes, nomeadamente aterrar no sofá e descansar. Ando novamente a dormir mal e isso reflecte-se no meu estado de espírito (por outro lado estou a escrever este post antes de ir trabalhar, enquanto "faço tempo" para sair de casa). Dizia eu que ando a ler pouco, continuo muito lentamente a avançar com o livro "A mulher que correu atrás do vento" do Tordo, de que estou a gostar mas pelo qual ainda não estou apaixonada e não resisti a pegar no Histórias Bizarras, da escritora Olga Tokarczuk , que trouxe do encontro da Roda dos Livros a que fui, e do qual já li 3 ou 4 contos. Bem bons, só vos digo. E estranhos.

Já tinha tantas saudades de estar à roda de uma mesa, a rodar livros, a jogar conversa fora, que é como quem diz, a aumentar a lista de livros que quero muito ler a ponto de me deixar assoberbada mas extremamente feliz. Apesar de ler continuar a ser, para mim, uma actividade essencialmente individual, há poucas coisas tão boas como conversar sobre livros e leituras com quem compreende este amor.

Bom dia e boas leituras

Pesquisar

email

ler.por.ai@sapo.pt

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2023
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2010
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2009
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2007
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2006
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Mais sobre mim

Em destaque no SAPO Blogs
pub