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Ler por aí

Ler por aí

28
Out22

Leve, leia, devolva

Patrícia

Já era noite quando fui à padaria comprar pão. Não uma daquelas padarias com montras bonitas cheias de mau pão. Uma daquelas padarias onde o forno é a lenha e se faz pão tipo alentejano e de onde saio com um pão quente, enrolado num bocado de papel rasgado de um dos sacos de farinha porque está demasiado quente para vir num saco de plástico. Uma daquelas padarias a sério e aquela que tem o melhor pão do mundo. Estranhei o "Gosto muito da nossa biblioteca" da M. (padeira e amiga de longa data) porque a biblioteca da aldeia nem merece esse nome. 

Fui ver (não caia neve do azul cinzento do céu mas, por acaso, chovia que "deus a dava") e era uma caixa linda do projecto "Leve, leia, devolva" com livros para partilhar.

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Acho que podem imaginar o meu entusiasmo. Claro que trouxe um livro para ler (A máquina do Tempo Acidental) e deixei por lá muitos outros para, espero, serem "levados, lidos e devolvidos". Um mês depois voltei, devolvi o livro lido, deixei mais uns quantos e voltei a trazer outro, desta vez o "A mulher que correu atrás do vento" do Tordo, que ando a ler.

Deixem-me tentar explicar-vos a importância desta caixa e a razão do meu entusiasmo, que não é apenas a não displicente alegria de partilhar livros e ler "de borla".

Esta aldeia, onde passei a minha infância e me tornei leitora, fica no meio da serra do Caldeirão e longe de tudo. Dizer que fica a 42km da sede de concelho não diz muito quando esses 42km são às curvas e não há transportes públicos (para terem noção só há 1 autocarro, aos dias úteis, parte às 07h15 e regressa às 19h15, aos fins de semana a aldeia fica "isolada"). A verdade é que um miúdo só de lá sai de carro. E isto implica que o adulto tenha tempo e vontade para tal. Na prática, ir a uma biblioteca nas férias é bastante difícil. Trocar livros com amigos também não é das coisas mais fácil porque há poucos miúdos. (para não falar de que nem todos lêem - no meu tempo, éramos bastantes e a única que lia era eu). A possibilidade de encontrar um livro diferente para ler pode ser muito importante para estes miúdos. Estas coisas (e as muitas outras caixas, caixinhas, cabines deste género por este país fora) podem fazer leitores.

Claro que nem tudo é positivo e há a possibilidade de, apesar da biblioteca municipal deixar e trocar os livros, as caixas estarem quase vazias (visitei uma outra destas caixas numa localidade diferente e era assim que estava, praticamente vazia), serem vandalizadas (roubadas, destruídas) ou simplesmente se desintegrarem (convenhamos, são muito giras mas que raio de ideia de fazem isto em madeira, ainda por cima de má qualidade ou mal tratada a ponto de às primeiras chuvas já estarem uma miséria, a lascar e empenar).

Mas a esperança contida nestas caixas supera largamente os possíveis pontos negativos. Um livro é uma possibilidade e cabem aqui muitos livros.

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15
Out22

Diário de leituras #3 ou a vontade que tenho de ler tudo

Patrícia

Nos últimos anos tenho andado meio arredada de algumas leituras. A vida acontece e deixei de ter disponibilidade mental para determinadas coisas, sendo a mais importante delas a leitura. Nos últimos 2 anos li acima de tudo fantasia, o meu género conforto, ficção cientifica e policiais. Volta e meia lá pegava num livro mais desafiante mas foram estes os géneros que me salvaram  quando precisava esquecer o presente, o mundo e limpar a cabeça. A vida continua a acontecer mas habituamo-nos a tudo, organizamo-nos e, de alguma forma, voltei a ler livros desafiantes e voltei a ter, sobretudo, vontade de os ler. A minha lista (se eu fizesse listas) de livros para ler é novamente enorme e diversificada. Voltei a ouvir podcasts sobre livros e isso também ajudou (ando a ouvir os Verdes Anos, o podcast do jornalista Ricardo Duarte, onde ele conversa com escritores sobre o percurso que percorreram até à publicação dos seus primeiros livros). Não me lembro da última vez que aguardei a publicação de um livro e agora isso acontece. Já tenho vontade de me enfiar numa livraria e ficar lá a escolher um ou dois livros. E a verdade é que nada disto acontecia há muito tempo.

Há dois anos, quando fui à feira do livro, comprei livros que sabia poderem interessar-me ou, pelo menos, ficar bem na estante, porque a verdade é que chegar a casa sem livros, que era o que me apetecia, ia levantar demasiadas perguntas, demasiada preocupação e eu já tinha que lidar com a constatação do facto de estar no fundo do poço, não precisava de lidar com perguntas. Nestes anos entrei muitas vezes em livrarias e saí de lá sem nada, por escolha e falta de vontade. No meu trabalho temos o hábito de oferecer uns aos outros, no aniversário, cheques oferta e claro que o meu é sempre para gastar em livros  e, apesar do meu aniversário ser em Fevereiro, só este mês o gastei.

A minha relação com a leitura sempre foi uma forma simples e eficaz de me perceber. Não sou como muita gente que deixa de ler quando está triste ou que lê menos quando está feliz; eu leio quase sempre, simplesmente  leio livros diferentes dependendo do estado de espírito. E este renovado interesse por livros de que vou ouvindo falar é o sinal que estou, lentamente, a voltar a ser eu.

Ah, Ando a ler o segundo volume do Livro do Pó, ainda não me decidi se é o melhor ou o pior livro da série. A acção passa-se 10 anos depois do Telescópio de Âmbar (isso foi uma boa surpresa, já que primeiro volume se passa 10 anos antes da história contada na trilogia dos Mundos Paralelos) e Lyra e Pan estão crescidos e bastante diferentes - e a coerência dessa diferença é aquilo que me faz hesitar. Acho que só vou mesmo decidir no fim. E também tenho lido alguns textos dos Evangelhos Apócrifos, traduzidos pelo escritor Frederico Lourenço, textos que sempre me interessaram. 

08
Out22

Diário de leituras #2 e outras minudências

Patrícia

E por falar com rapidez ou quantidade de leitura, tenho que admitir que estas semanas foram miserável nos dois parâmetros. Ao contrário do que pensava só em 2 dias consegui ler à hora de almoço (eu sou daquelas pessoas que gosta de almoçar sozinha com um livro) e tenho saído do trabalho tão cansada que apenas tive energia para as "obrigações". 

Se pensar que estive de férias até me parece estranho estar tão cansada mas, na verdade, é porque estive de férias que estou tão cansada. Este ano tirei férias a sério, daquelas em que descansar é uma prioridade, e isso não acontecia há mais ou menos 6 anos e agora o meu corpo reaprender a relaxar e livrar-se de algum cansaço acumulado e não quer outra coisa. O trabalho tem sido muito e barulhento e complicado (coisa que não vai melhorar) e, apesar de gostar muito do que faço, ando um bocado enervada. Tenho uma lista interminável de coisas para fazer (e curiosamente a maioria são coisas que me vão dar imenso gozo e que quero muito tentar) mas não consigo pegar em nada. Na verdade ando a fazer todo o meu trabalho aos bocadinhos porque sou constantemente interrompida para ir fazer outras coisas ou para ajudar alguém a resolver um problema. Uma das razões pelas quais sou tão fã do teletrabalho é que, em casa, conseguia efectivamente despachar o que tinha para fazer, nem que fosse antes ou depois do horário de trabalho (e como não perdia tempo em viagens inúteis isso não me tirava tempo da vida privada). Agora tenho tentado não trazer trabalho para casa - não me pagam para isso e iria efectivamente ter que deixar para trás algo de pessoal e não estou disposta a fazê-lo - mas a verdade é que não estou a dar conta do recado e isso bule-me com os nervos.

Mas voltando às leituras, um ponto alto da minha semana foi a noite em que simplesmente nem ligámos a TV e fiquei a ler em silêncio. O problema é que só consigo fazer isso quando o cansaço ainda não atingiu determinado nível.

E, perguntam-me vocês, o que andas a ler, Patrícia Maria?

O livro do pó, de Philip Pullman, uma prequela da série Os mundos paralelos. Comprei dois volumes (o terceiro ainda não saiu) desta série na feira do livro do ano passado e achei que estava mais que na hora de lhes pegar, afinal tenho a trilogia inicial bem presente após ter visto a série e relido o Telescópio de âmbar. Para já acho-o ligeiramente mais infantil que Os mundos paralelos mas igualmente bem escrito. 

Em audio ouvi, finalmente, Dwanshard. Esta a guardar esta novela de Cosmere para uma daquelas alturas em que precisasse mesmo regressar a Cosmere e foi desta. Soubesse eu que os protagonistas eram Rysn, Chiri-Chiri e The Lopen e acho que não tinha resistido tanto tempo. Já sabia que esta novela pequenina (na escala Sanderson, claro) ia ser um bombom para os leitores de Cosmere, ia trazer novidades e revelações fundamentais para completar este puzzle que é uma absoluta loucura do Sanderson e que nós leitores não apenas aprovamos como encorajamos. Há uma probablidade não irrelevante de morrermos antes disto estar acabado mas, bem, journey before destination, não é?

Entretanto li também Balada para Sophie, de Filipe Melo e Juan Cavia e é, de facto, maravilhosa. A história é um doce e o livro-objecto é daqueles de pôr em exibição na estante (e um presente muito especial).

Não sou uma grande apreciadora de novelas gráficas, leio-as demasiado depressa, não consigo concentrar-me nas imagens mas confesso que alguns "quadrinhos" desta história ficaram na minha cabeça. Acredito que, se algum dia, dali sair um filme vai ser qualquer coisa de extraordinário - tem, pelo menos, o potencial para tal.

Hoje é dia de livros. A roda dos livros começou finalmente a reunir em formato físico e, como não pude participar da última vez, hoje é o dia dos meu regresso. Vai ser fantástico, já sei.

                   O-Livro-do-Po-Livro-1-La-Belle-Sauvage.jpegbalada para sophie.jpeg

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01
Out22

O milagre da multiplicação de livros

Patrícia

O tema da quantidade de livros lidos é recorrente e geralmente polémico. Uma comentadora neste blog, a propósito do último post em que falei de 15 livros lidos, falou do "milagre da multiplicação de livros". Houve uma má interpretação (dela, que achou que eu dizia ter lido 15 livros em 2 semanas enquanto eu na realidade eu falava de "verão", o que na realidade inclui o período de junho a setembro, não chegando, ptto, à fantástica média de 4 livros por mês) e algum afinanço da minha parte que não tenho pachorra para este tipo de conversa. 

Mas este "milagre de multiplicação de livros lidos" é sempre um um tema recorrente e inclui sempre uma certa descrença de que aquela pessoa leu, de facto, aqueles livros todos naquele período de tempo. 

A mim surpreende-me logo a ideia de que dizer que se leu n+10 livros quando apenas se leu n. Mas admito que possa haver quem goste de acrescentar uns livritos às suas leituras, numa competição infantil e tola. Não é sobre isso que quero falar. Se não me interesso pela quantidade de livros alguém leu num mês  ou pela rapidez de leitura de alguém, ainda menos me interesso pelos livros que alguém não leu.

Mas quero falar um bocadinho sobre a rapidez de leitura, sim. 

Vou começar por dizer o óbvio: há livros de 400 páginas que se lêem num instante e outros que implicam uma dedicação de dias.

Outra coisa óbvia: há dias em que uma pessoa se consegue concentrar e devorar páginas e outras em que um mosquito nos distrai e não conseguimos passar da mesma página.

Não somos máquinas, temos sentimentos e estados de alma, gostos e interesses diferentes e inconstantes. 

Há livros para despachar, há livros para pensar. Há livros de leitura compulsiva, há livros que pedem tempo. 

Dou-vos dois exemplos, de dois calhamaços, um que li numa questão de dias/semanas, outro que levei um ano. Falo de qualquer um dos livros da série Stormlight Archives e do As benevolentes, qualquer um excelente mas com ritmos de leitura completamente diferentes. Ler fantasia, um tipo de história que me leva a mergulhar num outro mundo e ficar completamente alheada da realidade durante horas seguidas, é diferente de ler um livro que me magoa, enoja, entristece, horroriza a cada página. Um custa-me parar de ler, o outro não consigo consumir senão em doses homeopáticas. 

Ler um romance leve e que não implique grandes considerações filosóficas é diferente de ler um romance que me leve a querer parar para pensar, sublinhar, fazer pesquisa, saborear.

Para mim é importante ler todo o género de livros. Gosto de pegar num livro e lê-lo de uma assentada tanto como gosto de mergulhar numa série interminável de fantasia ou ler livros que me façam crescer como pessoa, reflectir, mudar.

Ler é uma actividade que faço ao meu ritmo, no meu tempo. Há meses em que leio muito, outros em que leio pouco. E está tudo bem.

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